sábado, maio 27, 2006

"A escola está sufocada por um excesso de missões."

No Outróòlhar do Miguel (e tirado do Público.pt):

"O reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, defendeu hoje no Parlamento a necessidade de definir prioridades para a actuação da escola, actualmente sem capacidade de resposta e "esmagada" pelo excesso de missões que os responsáveis políticos e a sociedade teimam em atribuir-lhe.
(...)
"A escola está sufocada por um excesso de missões. Importa recentrá-la na sua função primordial", defendeu António Nóvoa, na cerimónia de apresentação do debate nacional sobre educação, que decorreu hoje na Assembleia da República.
(...)
"É mais fácil atirar tudo para cima da escola e depois culpar quem lá está pelo desastre dos resultados. Não se pode atribuir tudo à escola e depois esperar que os professores resolvam o problema como puderem", criticou."


Mas eu, logo quando saiu o Currículo Nacional do Ensino Básico - Competências Essenciais, me queixei que era impossível a escola conseguir que os alunos desenvolvessem tudo aquilo!!!

Por três razões:

1ª, Os professores são pessoas normais, não têm a maior parte daquelas competências. Assim, como ensiná-las?

2ª, As exigências sobre os saberes a transmitir são muito complexas. E apercebemo-nos que os processos de aprendizagem também o são. Pelo que, já ao nível estritamente disciplinar, o problema é deveras complicado.

3ª, Se a isto juntarmos as educações que são transversais a todas as áreas disciplinares, e a que Nóvoa fez referência (parece que foram mais de 20 e só nos últimos meses), a saber (sem hierarquias): cívica, estética, ambiental, rodoviária, do consumidor, para a saúde (e só aqui: tabagismo, alcóol, drogas, higiene física e mental, etc.), sexual, para a paz, e por aí fora...

Bem, ficamos assim com uma ideia da magnitude da tarefa. Por outras palavras, da pura e total impossibilidade de levar essa tarefa a bom termo!

(E dizia eu, a quem me queria ouvir na altura (e que não era ninguém, sejamos francos!), que ainda iríamos ser crucificados à conta daquelas expectativas delirantes!)

Que António Nóvoa só agora tenha descoberto que o rei vai nu é, confesso com o máximo respeito que ele me merece e que não se põe em questão, e face à imagem completamente destroçada que a escola apresenta hoje, algo que me suscita revolta e uma imensa piedade pela sua cegueira de então!