sábado, janeiro 21, 2006

O poder

No meu post “Sente-se...” tinha em mente todos aqueles que, com poder, são auto-suficientes até à arrogância; que decidem sem consultar ou, pelo menos, respeitar aqueles que vão ser gravosamente afectados por essa decisão (às vezes apenas fingindo ouvi-los); que optam por pôr uns contra os outros para poderem mandar mais facilmente; etc, etc. Ou seja, os nossos governantes.

Entretanto, surgiu-me a interrogação (reflexões suscitadas pelo último post da TheLBug): aquilo que penso e atribuo aos governantes poderá ser pensado e atribuído pelos alunos a mim? Isto é, se houvesse alunos que lessem aquele poema, pensariam eles em dedicá-lo a mim (com o mesmo prazer com que eu o fiz em relação aos governantes)?

A resposta honesta deve ser sim, tenho quase a certeza disso. Lembro-me, uma lembrança que ainda me queima passados vários anos, de alunos que se sentiram profundamente ofendidos comigo. Por exemplo, um que, desesperado, acabou por me dizer (e me silenciar): “O seu filho deve ser muito infeliz para ter de viver com alguém como o stor!”

Repare-se: também há alunos que pensam de outra forma, diga-se em meu abono. Por exemplo, num trabalho deste ano, em que uma aluna recolheu opiniões dos colegas sobre todos os professores da turma, surge esta “apreciação” a meu respeito: “O stor é fixe! Ker dizer, é mt fixe, ou melhor mt fixe mxm!”

Bom, mas o problema disto tudo está em como lidar com o poder sem que ele nos suba à cabeça. É certo que o professor tem um poder bem frágil (pensamos nós, claro!, se calhar os alunos não concordam) na sala de aula, mas tem-no. Ao usá-lo, a tentação de abusar dele existe em toda a gente. A questão está, parece-me, no estabelecimento de uma linha de fronteira para lá da qual o professor se compromete perante si mesmo a não a ultrapassar. E a tentar verdadeiramente conseguir não a ultrapassar, mesmo quando lhe parece justificado fazê-lo... Tarefa difícil! Que pode levar uma vida inteira!

“Sente-se. (...) Você é um idiota. (...)” Ok: vou tentar não merecer isto!

5 Comments:

Blogger Teresa Martinho Marques said...

É tão verdade o que dizes.
Parece-me a mim, sob este vosso olhar, que o "crescimento" do professor não será mais do que ir aprendendo a conquistar/merecer o respeito, sem cair na tentação de ser um Idiota (por excesso de poder, ou por demissão - passando todo o poder para os alunos).
Os equilíbrios são as utopias que nos mantêm no caminho... (A corda de circo onde desejamos manter-nos a maior parte das vezes, durante a maior parte do tempo.)

21/1/06 13:47  
Anonymous Anónimo said...

Já cá tenho vindo várias vezes ler o que se diz por aqui. Concordo com algumas; com outras, não. Rio-me com algumas graças; com outras, não. Mas esta agora não teve mesmo garcinha nenhuma. Até é revoltante para quem cá vem.
Acho que tenho assistido a tudo o que se tem passado por aqui em silêncio. Acho que nunca me pronunciei, mas desta vez não posso mesmo ficar calado.

Por acaso já lhe passou pela cabeça que não seriam só os seus alunos a fazer tal interpretação? Por acaso acha que a sua "companheira de blog" é assim tão pouco inteligente e perspicaz que não tenha evoluído para um grau de maturidade superior?
Por acaso reparou na t-shirt? Por acaso passou-lhe pela cabeça que a interpretação fosse um pouco mais além do que as fronteiras do seu ser e que a sua "companheira de blog" pudesse achar que lhe estava a chamar (a ela) de idiota?
Você, com este discurso dúbio ou é muito complexado ou muito egocentrista, mas o Sol não nasce só para si e há mais gente neste mundo, para além da sua pessoa triste e invejosa.

Quanto a mim, acho que a sua "companheira de blog" deu-lhe uma resposta à altura, muitíssimo inteligente e, acima de tudo, muito educada. Eu, seria um pouco mais duro e contundente.

Pense nisso e evite estes ataques. Quem tem "companheiros de blog" assim, não precisa de inimigos.

22/1/06 16:55  
Blogger Miguel Pinto said...

Este texto suscitou uma pequena entrada no Aragem. Obrigado, Rui.

22/1/06 18:39  
Anonymous Anónimo said...

Caro Rui, nós temos alunos que já são adolescentes, eles podem não saber muita Matemática, mas o que não deixam é de levantar o braço para dizer de sua justiça, o que nos ajuda a repensar bem se não teremos "abusado" quando é caso disso. (A não ser com algum profesor tão prepotente que os põe na rua se se atrevem a falar, mas esses eventuais casos estão nitidamente fora desta pequena família que aqui na blogosfera temos criado - cada um com nome, acrescente-se)

22/1/06 23:35  
Blogger Vitor Mota said...

Colega anónimo,

Tem todo o direito de não se identificar de modo a exprimir a sua opinião. No entanto acho que não tem o direito de usar essa não identificação para ofender um colega com palavras e afirmações da natureza das que usou. Se havia um mal entendido sobre o que se queria realmente dizer, bastava perguntar a quem o disse para que este pudesse esclarecer. Afinal, somos colegas!

25/1/06 12:30  

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