sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Histórias edificantes

1ª história edificante:
À entrada de aulas de substituição:
"Fora as aulas de substituição!" (tª do 8º, a mim)
"O que é que estes gajos vêm pr'áqui chatear!?" (tª do 6º, a mim)
"Cambada de panel...!!!" (tª do 6º, a mim)
"Vai levar na c...!" (tª do 9º, a uma colega)
"Vai pró c...!" (tª do 8º, a outra colega)
E nunca se consegue identificar o ou os agressores porque estas coisas são ditas no meio do grupo e nas costas do professor.
Bem, nunca não. Quando isto me aconteceu ("Cambada de ..."), voltei-me para o grupo de onde tinha vindo o "mimo" e disse:
"Eh lá, tenham cuidado, não chamem aos outros aquilo que vocês são, é chato, fica toda a gente a saber!"
Galhofa geral. Geral, excepto um... que, aliás, pouco depois, acabou por agarrar nas suas coisas e saiu da sala de aula. Seguido de mais meia dúzia, após acesa discussão e sem um olhar ou uma palavra para o não-existente que ali estava e que era eu.
É assim que muitos dos nossos alunos tratam os professores. E nem queiram saber como é com os empregados, conseguem ser várias vezes pior! E nem entro no capítulo dos carros!
Porque, como dizia uma Encarregada de Educação depois do seu filho ter feito uma data de patifarias (roubos, agressões a colegas, ameaças a professores e empregados): "Sabe, ele está muito revoltado..." Pois está...

2ª história edificante:
Imaginem que o vosso patrão vos diz isto:
"Meu caro amigo, se você trabalhar bem e arduamente, você tem que alombar com tudo isto aqui todos os dias.
Mas, se você não fizer nada que preste e se se portar realmente mal, você vai para casa com todas as faltas ao serviço justificadas".
Não, não é uma brincadeira.
Um aluno, que faça algo de tão grave que leve a um castigo de suspensão, tem todas as suas faltas justificadas pelo Governo, isto é, liberta-se das aulas sem sofrer qualquer consequência (ninguém pode ser punido por uma falta justificada).
Que alegria é ter uma suspensão! Os alunos até já se riem quando sabem de uma suspensão (verídico!)!
(Ofício-Circular nº 8 de 15/1/04, da Direcção Regional de Educação, Ministério da Educação, Gabinete do 2º, 3º ciclos e Secundário)

A cereja em cima do bolo:
Ao pôr pais contra professores (situação de que os alunos cada vez mais se aproveitam) este Governo destruiu a única parceria que teria algumas hipóteses de sucesso na educação destes jovens. Digam adeus! Talvez na próxima geração!

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Rui, sei que já viste que estou em cinco dias de descanso destes problemas, preocupações e tristezas, por isso deixo-te só um abraço, aproveita bem estas pequenas férias.

24/2/06 18:42  
Blogger Teresa Martinho Marques said...

E eu que já te agradeci lá na minha teia as tuas palavras doces... venho aqui perceber as mil razões do teu desalento e tristeza. Entendo que assim seja fácil esquecermo-nos do sonho... Confesso que tenho tido sorte com meninos e pais este ano, pelo que talvez me reste ainda alguma capacidade para vos "mimar" com algumas entradas mais suaves... Isso não significa inconsciência em relação ao resto do "mundo", como decerto vocês já perceberam, (vivi 20 anos numa escola semelhante ao que descreves e sei bem da dor e da impotência e lá fui resistindo, pelos meninos que precisavam de mim e se deixavam amar). Portanto, venho aqui deixar um abraço, a minha solidariedade e o desejo de que lá pela teia encontres sempre um cantinho para repousar do barulho dos dias... Pelo menos enquanto eu tiver a sorte de viver alguns dias mais claros por entre a escuridão deste ano...

24/2/06 19:40  
Blogger Maria Lisboa said...

É natural que os alunos nos tratem assim. Só traduzem naquilo a que chamo "linguagem de páteo" tudo o que a ME, o Valter, o Governo e os OCS nos têm chamado. Só reflectem, com a sua falta de respeito, a falta de respeito que a tutela mostrou, e divulgou amplamente, ter pelos professores. De calões a incompetentes chamou-nos de tudo. Para além disso atribuiram-nos todo o tipo de funções que acabaram com o já periclitante prestígio da classe (muitas delas "comandadas pelos AAE). Digo várias vezes que já só nos falta limpar o rabinho aos meninos (os Educadores e alguns Profs do 1º ciclo já o fazem) e perguntar de que que cor é que os meninos querem o papel, não vão ficar perturbados por utilizarmos papel branco. Depois de tudo isto, como podem os pais e os alunos (e mesmo alguns AAE) ter alguma consideração por nós?

25/2/06 00:27  
Anonymous Anónimo said...

Uma sugestão de leitura: O"EDUQUÊS" EM DISCURSO DIRECTO - uma crítica da pedagogia romântica e construtivista.
Por Nuno Crato.
Edições gradiva.

26/2/06 00:36  
Blogger Artur Coelho said...

A cereja apenas vem amargar um bolo já de si muito difícil de engolir...

28/2/06 18:35  
Blogger AnaCristina said...

E o nosso ME quer pôr essas aulitas até ao secundário... Hummm, que bom!!! 'Tou tão contente!

um abraço

1/3/06 22:07  

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