quinta-feira, janeiro 26, 2006

Aprender... ou não (com o Padre António Vieira)

"Ille vos docebit omnia quaecumque dixero vobis: O Espírito Santo — diz Cristo — vos ensinará tudo o que eu vos tenho dito.
Notai a diferença dos termos, e vereis quanto vai de dizer a ensinar. Não diz Cristo: o Espírito Santo vos dirá o que eu vos tenho dito; nem diz: o Espírito Santo vos ensinará o que eu vos tenho ensinado; mas diz: O Espírito Santo vos ensinará o que eu vos tenho dito, porque o pregador, ainda que seja Cristo, diz: o que ensina é o Espírito Santo. Cristo diz: Quaecumque dixero vobis; o Espírito Santo ensina: Ille vos docebit omnia.
O mestre na cadeira diz para todos, mas não ensina a todos. Diz para todos, porque todos ouvem; mas não ensina a todos, porque uns aprendem, outros não.
E qual é a razão desta diversidade, se o mestre é o mesmo e a doutrina a mesma? Porque, para aprender, não basta só ouvir por fora: é necessário entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se muito; se pouca, pouco; se nenhuma, nada.
O mesmo nos acontece a nós. Dizemos, mas não ensinamos, porque dizemos por fora; só o Espírito Santo ensina, porque alumia por dentro: Ministeria forinsecus adjutoria sunt, cathedram in caelo habet, quia corda docet, diz Santo Agostinho. Por isso até o mesmo Cristo, pregando tanto, converteu tão pouco. Se o Espírito Santo não alumia por dentro, todo o dizer, por mais divino que seja, é dizer: Quaecumque dixero vobis; mas se as vozes exteriores são assistidas dos raios interiores da sua luz, logo qualquer que seja o dizer, e de quem quer que seja, é ensinar, porque só o Espírito Santo é o que ensina: Ille vos docebit. "

(Descobri este texto no Abrupto, não indicando Pacheco Pereira a fonte - que eu também desconheço -, apenas a autoria do Padre António Vieira)

1 Comments:

Blogger Vitor Mota said...

Rui, pena é que não tenhas dado a tua opinião sobre o artigo. Eu diria apenas que o contexto do ensino do Espírito Santo das palavras de Cristo, é outro e diferente do ensino que cada um de nós, como professor numa escola pública, tem. O ES só actua em quem o deixa actuar.
Concordo que "dizer" não é ensinar e para que o ensino se efective realmente, é necessário um trabalho de motivação mental e de acompanhamento profundo a vários níveis. Se não for o ES a fazer isto, porque na maior parte dos casos não tem liberdade para o fazer, então alguém terá esse trabalho!

27/1/06 14:20  

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