domingo, julho 23, 2006

Guerra(s)

Abomino a violência, todos os tipos de violência: verbal ou física, pessoal ou institucional, social ou política.
Como professor sou obrigado a lidar todos os dias com a violência, com a dos outros e com a minha. E repito: abomino-a.

Sobre a guerra que Israel está a travar.

É uma guerra suja? Claro que é. Como todas. Seja no Darfur, na Tchetchénia, na antiga Jugoslávia, ou no Médio Oriente. Não há guerras limpas, nunca houve. Eu indigno-me com todas as guerras, não só com esta.

Sou simpatizante de Israel? Não, não sou. Pelo contrário, tenho tomado sempre uma posição crítica face à atitude bélica e violenta com que Israel responde a atitudes de igual tipo dos seus adversários. Porque lhe reconheço uma superioridade moral. E penso que existem maneiras mais inteligentes, mais eficazes e mais humanas de lidar com o problema que Israel vive desde o momento da sua fundação e que, é verdade, reconheço ser dramático.

(na realidade devo confessar honestamente que não sei, nenhum de nós sabe verdadeiramente o que é viver o dia a dia com a plena consciência, e quando nos distraímos a sermos lembrados de tal, de que todos os países à nossa volta estão a fazer tudo o que podem para acabarem connosco, com a nossa terra e com os nossos filhos)

Que fique claro: estou sempre do lado das vítimas, de todas as vítimas, independentemente da nacionalidade.

No entanto, há alturas em que isto não chega. Hoje sei que tenho mesmo que escolher um lado, principalmente quando a maioria das pessoas à minha volta parece escolher o lado com o qual eu não posso de todo pactuar.

Pergunto:
Qual o lado que dá mais garantias de, a mim, à minha família e amigos, conduzir a nossa vida de acordo com os valores e princípios que consideramos mais humanos, mais nobres e mais respeitadores da nossa condição?
Qual o lado que dá mais garantias de o número de vítimas não vir a ser gigantesco? Por outras palavras, o lado que mostra mais respeito pela vida humana e que não justifica nem confunde a barbárie com a Vontade de Deus?

A resposta, para mim, é clara:

O meu lado é o de Israel!

Não é o do Hezbollah, nem o do Hamas, nem o da Síria, nem o do Irão, nem o do Líbano!

15 Comments:

Blogger henrique santos said...

Caro Rui
Israel, os seus políticos e os seus apoiantes estrangeiros, USA em primeiro lugar, são tudo menos vítimas. Basta contar as vítimas reais ao longo dos anos. Basta ver o que Israel e os USA têm causado de humilhação e de vítimas, no passado e no presente, para ver quem é vítima. Basta ver quem invade. Quem obstaculiza acordos de paz ao longo dos anos.
Rui. Decididamente. Ou estás mal informado ou estás a tirar conclusões que não são suportadas por factos.

23/7/06 21:28  
Anonymous Anónimo said...

Já vimos de que lado está o camarada henrique.
Apenas uma pergunta. Ao longo destes 60 anos quantas vezes israel se defendeu de ataques (egipto,jordânia,siria) e invasões que o tentaram esmagar?
A memória soviética é de facto muito curta. Pena que os nossos filhos tenham que levar com camaradas destes nas escolas.

23/7/06 22:57  
Blogger henrique santos said...

O caro anonymus tem discurso de nazi, parecido com a prática actual de Israel em relação aos seus indefesos vizinhos.
Aconselho-o no entanto a ler um pouco mais sobre a formação do estado de Israel quando os seus fundadores tinham práticas denominadas de "terroristas", tal como antes se qualificavam os palestinianos.
Se quiser discutir decentemente, primeiro uma opção, embora não exigível de todo: descubrir o seu miserável anonimato e/ou acabar com insinuações absolutamente repugnantes.

24/7/06 19:38  
Blogger Rui Diniz Monteiro said...

Henrique,
Não defendo NUNCA guerra nenhuma.
Não sou sequer simpatizante de Israel.
Não o defendo, nem agora, nem antes.
Digo apenas que o meu lado é o de Israel.
Porque quando as posições se encontram extremadas há que escolher, não o lado ideal (que não existe), mas aquele com o qual é possível um encontro de valores e de princípios.
No qual é possível a crítica e a condenação.
A alegria dos povos árabes com o 11 de Setembro e com o 11 de Março, o facto de se considerarem arautos de Deus e de que matar o infiel (quer dizer, civis, homens, mulheres e crianças) dá direito ao paraíso, revela-me bem que esse não é o meu lado.
Nem é esse o lado, ou seja, a vida que quero para a minha família e para os meus amigos. Nem para si, Henrique, nem para os meus alunos. Compreende?

24/7/06 20:23  
Blogger Pedro said...

Apoiado!!! Entre uma democracia e os terroristas, a opção é clara...

24/7/06 20:42  
Blogger henrique santos said...

Caro Rui
compreendo os seus argumentos embora não concordo com eles. Os árabes ao longo dos anos têm sido humilhados duma forma que só podia dar azo a que fundamentalismos tivessem o caminho preparado para avançar. O Rui diz que está do lado de Israel. Eu não estou do lado de Israel nem do lado dos extremistas islâmicos. Penso que Israel, tem tido nas mãos, por ser uma potência militar e não só (apoiada pelos EUA), a oportunidade de conseguir a paz com os palestinianos. Esteve perto, algumas vezes de o fazer, caso do Rabin, mas nunca o fez. Por isso vejo uma responsabilidade muito grande de Israel na realidade de guerra actual, não estando evidentemente do lado de forças que matam civís inocentes, seja de que lado for.
As formas que Israel tem usado para com os palestinianos são para mim indignas, vindo dum povo que tanto sofreu com o holocausto nazi, e que, por isso, tinha mais razões para não tratar os seus vizinhos mais fracos da forma como os trata.
Mas. Enfim. não tenho a pretensão de o convencer. Espero é que aquele conflito encontre forma de se resolver, para bem dos povos todos que lá estão a sofrer.

25/7/06 14:25  
Blogger Amélia said...

Nesta guerra, velha de dácadas - e em rigor, de séculos - não há bons; só maus. Excepto as numerosas vítimas inocentes - no Médio Oriente,Iraque, Israel, Palestina e Líbano incluídos - e na África com quem ninguém parece preocupar-se.Tal como os muilhares de vítimas inocentes do 11 de setembro, do 11 de março, do 7 de julho, do 11 de julho (com estes, como eram indianos(terá sido por isso?), ninguém se afligiu muito...
Mundo cão, este...

25/7/06 16:40  
Blogger Rui Diniz Monteiro said...

Caro Henrique,
Diz-me que "não tenho a pretensão de o convencer". Porque não? Não é para isso que estamos a discutir as nossas ideias? Porque eu não discuto para me ouvir. Portanto, não tenha problemas e procure convencer-me, como eu procuro convencê-lo a si.
Só que aqui não é preciso porque eu concordo consigo.
Sabe que quando digo no meu post que "penso que existem maneiras mais inteligentes, mais eficazes e mais humanas de lidar com o problema" refiro-me especificamente a um procedimento muito simples que Israel podia concretizar: tratar bem as populações mais pobres, dentro e fora do seu território, ajudá-las a sair da sua miséria, não com ajudas humanitárias mas ensinando-as "a pescar" naquela terra tão difícil e ingrata. Saía mais barato que uma guerra, estaria do lado da vida e ganhava aliados onde agora só consegue inimigos e mortos.
Mas, Henrique, eu continuo a dizer: o meu lado é o de Israel. Por isso é que o critico. Ao Hezbollah não critico, oponho-me radicalmente: não são o meu lado, nem nos valores, nem nas acções, nem no tipo de sociedade que defendem.
Olhe, Henrique, acha que a minha posição em relação a Israel é fácil? Fácil é estar do contra pura e simplesmente, não concorda?
Um abraço.

25/7/06 21:48  
Anonymous Anónimo said...

O caro anonymus tem discurso de nazi, parecido com a prática actual de Israel em relação aos seus indefesos vizinhos.
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Nazi!!! Belo argumento há falta de melhor.
Mas como a memória do comuna henrique continua a apresentar falhas, relembro-lhe o pacto do zé com o adolfo.
Quanto ao meu miserável anonimato, pensando melhor, é preferível para a minha saúde a sua manutenção. É que hábitos que vocês não perdem. Ai que saudades que devem sentir da vossa sibéria e do tirozinho na nuca.
Pobres alunos...

26/7/06 00:13  
Blogger henrique santos said...

Caro Rui
acho que afinal talvez estejamos mais de acordo que que a príncipio pareceria.

Para o caro anónimo, depois de eu ter reagido, da primeira vez, a quente, às suas provocações, só posso dizer o seguinte:
-se quiser discutir civilizadamente, com argumentos, sem insinuações: estarei aqui. O seu anonimato é perfeitamente compreensível.
Se quiser continuar a usar os insultos, não terá resposta da minha parte.

26/7/06 15:28  
Blogger fernando_vilarinho said...

um pouco mais de respeito pelo "Homem" e usem o termo "governo de Israel" em vez de Israel. A maioria dos cidadãos israelitas não tem sido apoiante das guerras em que o seu país origina/entra. Se por acaso o Sócrates se lembrasse de atacar Marrocos, gostariam que lá fora dissessem "os portugueses são uns barbaros por terem invadido Marrocos" e nos tomassem todos por iguais, qd a maioria da população seria contra a invasão.
mais atenção então

26/7/06 18:50  
Anonymous Anónimo said...

Em primeiro lugar, queria saudar o administrador deste blog porque contribui, de forma activa, para a participação democrática dos cidadãos e para a transmissão de ideias, impressões e sentimentos acerca de temas variados... e com preocupações fundamentalmente humanistas.

Dito isto, a razão desta minha intervenção tem a sua génese no desacordo respeituoso - mas profundo - relativamente à sua posição sobre o conflito israelo-árabe em geral e sobre o actual conflito que opõe Israel e o Hezbollah em particular.
Não pretendo alcançar qualquer tipo de Verdade absoluta sobre um conflito que se arrasta há quase seis longas décadas marcadas pela guerra, pelo sangue e pelo ÓDIO.

Entristece-me ler a sua posição claramente circunstancial e maniqueísta acerca de uma situação tão delicada e problemática... e que parece não ter fim à vista! Circunstancial porque - e apesar da sua formação académica na qual deveria ter assimilado uma postura mais cientifica e objectiva na análise de um determinado fenómeno - não tenta, no seu texto, esboçar, apontar ou determinar as razões que nos levam a esta trágica situação ("nos" porque este conflito não pode ou não deveria nos deixar indiferentes!).
Lamento também a sua visão maniqueísta em que consegue traçar claramente uma fronteira entre os bons e os maus, entre os civilizados e os bárbaros, entre os fieis ("... a vontade de Deus.") e os infiéis.

Todavia, concordo consigo: também condeno todo o tipo de violência mas infelizmente será muito difícil erradicá-la por ser uma característica e uma reacção inerente à própria natureza humana (e não a um povo, uma cultura, civilização ou uma religião); só uma cultura pacifista (e não bélica como preconizam a administração Bush, o chefe do governo Iraniano, uma diversidade de grupos independentistas...) alicerçada no conhecimento (factual e objectivo) e no respeito pelo Outro e pela diferença poderá atenuá-la.
Portanto, também me insurjo contra a guerra; o adjectivo "suja" que empregou não passa, de facto, de um mero pleonasmo desnecessário. No entanto, penso que comete um grave erro ao escrever que Israel trava uma guerra. Uma guerra contra quem? Tradicionalmente este termo emprega-se para um conflito entre Estados dotados de exércitos convencionais. Se nos cingirmos aos factos e formos rigorosos, Israel encontra-se numa posição de potência regional agressora. Não há um conflito entre dois exércitos organizados, houve sim uma investida militar musculada no sul do Líbano contra um grupo de guerrilheiros. Esta investida tinha oficialmente o objectivo de neutralizar ou aniquilar o Hezbollah mas nos factos (é neles onde podemos procurar uma ponta de verdade) os alvos e as verdadeiras vítimas desta ofensiva são os civis, mais precisamente os libaneses (pois os estrangeiros ocidentais tiveram a sorte de serem repatriados; talvez hajam vidas que valem mais que outras!)... e colateralmente 4 funcionários da ONU. Segundo os últimos números que conheço (talvez já bastante desactualizados) os bombardeamentos mataram cerca de 400 libaneses (maioria civis) e destruíram habitações, infra estruturas (basta ver, incrédulos, as fotografias nos jornais ou ver as elucidativas imagens televisivas)... ambulâncias e mesquitas (pergunto: quem são os fundamentalistas, os bárbaros?).
Contudo e para não ser considerado como parcial, Israel também sofreu as respostas do Hezbollah e foi bombardeada em Haifa. Mas os resultados são bem diferentes: pouco mais de 40 mortos (maioria são militares) e a destruição causada é indubitavelmente menor.

Relembro que este conflito - para alguns esta agressão - foi uma resposta ao rapto de dois soldados israelitas. O que consta é que esses soldados funcionariam como moeda de troca com três presos do hezbollah nas prisões israelitas. Por seu lado, o governo israeliano não procurou qualquer tipo de negociação e atacou (para alguns de forma premeditada)... POPULAÇÕES CIVIS, legitimando a sua acção alegando que membros do Hezbollah se encontravam naquelas zonas residenciais! Era como se o governo espanhol bombardeasse - ou melhor arrasasse - o Pais Basco porque os membros da ETA vivessem naquela região!! Impensável! Entretanto as famílias dos dois soldados raptados, organizaram uma conferência de imprensa em Paris na qual afirmaram que a atitude de Israel não ajudava em nada para o resgate dos seus filhos. Concordo plenamente, a actual actuação do governo israelita só virá reforçar a rivalidade e o ódio existente naquele barril de pólvora.

Voltando um pouco ao início deste texto, seria interessante relembrar que Israel foi um estado criado em 1948 para o povo Judeu pelas grandes potências da altura (a França e a Inglaterra potências colonizadoras daquela região e os USA). Foi uma forma para os ocidentais limparem a sua pesada consciência judaica-cristã. Para tal desalojaram os Palestinianos de onde viviam. Seria interessante perguntar, e à semelhança do IRA ou da ETA, como foram criados os grupos armados (prefiro esta definição conceptual à de "grupo terrorista" para não ficar preso a uma ingénua e desajeitada visão etnocêntrica ou teocêntrica) do Hamas ou do Hezbollah? Neste conflito do Médio Oriente, quem é a potência invasora? Quem é a potência ameaçadora? Quem tem a arma nuclear naquela região? (talvez se perceba a vontade do Irâo em obtê-la para reequilibrar as forças da região e dissuadir Israel de agir dessa forma arrogante; apesar de afirmarem que se trata para fins civis) Quem ocupa os territórios de quem? Quem se encontra em territórios ocupados? Quem se encontra em campos de refugiados ou concentracionários? Tantas perguntas que poderiam a destapar esse véu de obscurantismo que tapam a visão de certas pessoas que tomam partido e que afinal talvez não conhecem a realidade e a história tanto do Médio-Oriente como do Islão.

O Rui não defende a guerra (aliás uma clara agressão) mas toma partido. Toma o partido - e com todo o direito - de Israel sabendo que se trata de uma grande potência militar com admirável capacidade tecnológica (pobre juventude palestiniana que luta desalmadamente com o envio... de pedras e de alienados), abastecido por armamento proveniente dos Estados-Unidos sabendo o peso que tem este sector nas economias ocidentais; as ditas economias desenvolvidas e civilizadas que vivem à custa do sangue derramado nos quatro quantos dos países do Hemisfério Sul.
De facto, as posições encontram-se extremadas mas o extremismo não é de forma alguma o apanágio do Islão como pretendem insinuar. Rui, o que é o mundo islâmico? Já visitou um desses países? Consegue identificar e distinguir um muçulmano que vive em França, de um muçulmano que vive na Nigéria, de um muçulmano que vive na Arábia Saudita, de um muçulmano que vive na Indonésia, etc...? Acabam por ser tão diferentes. O Islão é uma religião relativamente recente que veio se sobrepor a práticas culturais já existentes. Tal como o Rui - e como a esmagadora maioria das pessoas - também condena veementemente os ataques terroristas - desta vez o adjectivo parece-me bem utilizado - do 11/09 e do 11/03 mas foram planeados e levados a cabo por uma pequena minoria - que porventura terá sido apoiada num passado mais ou menos recente pelos USA!! Portanto permita-me insurgir-me contra a sua generalização baseada numa infeliz categorização alimentada em preconceitos e estereótipos que roçam uma forma de racismo ou melhor de islamofobia. Consegue identificar a comunidade islâmica existente em Portugal como ameaçadora ou perigosa para ordem ou para a jovem democracia portuguesa? Talvez essa comunidade - multicultural e muito fragmentada - até possa não ser assim tão bárbara em certas realidades e contextos!!

Defende que o ocidente - no qual inclui Israel - é o garante da democracia e que os regimes islâmicos são tirânicos. Fala de liberdade de opinião, de direito à crítica e à condenação. Por outras palavras advoga a democracia para os ocidentais e concordo, em parte, consigo; também prefiro viver neste lado do mundo. Mas não é por isso que não devemos ser objectivos e fazer prova de espírito crítico - atitude que deveria ser ensinada aos seus alunos e não só - pois muita da informação que nos chega a Portugal - salvo raras excepções - acaba mais por ser desinformação. Os jornalistas - ou muitos deles - preferem o sensacionalismo de uma senhora a chorar em frente da sua casa destruída ou do seu filho baleado em vez de tentar cobrir este conflito com toda a honestidade intelectual possível. Pois além de transmitir uma imagem de desolação do Líbano - embora não deixe de ser importante - talvez poderiam interrogar intelectuais árabes, muçulmanos ou israelitas para tentar explicar as causas profundas deste longo conflito e os seus enjeux. Voltando à democracia que muitos acham da exclusividade do ocidente: será que o não reconhecimento, por parte da União Europeia, da vitória do FIS (Front Islamique du Salut) em eleições na Argélia foi uma postura democrática? Será que o não reconhecimento da vitória do Hamas em eleições democráticas por parte de Israel é democrática (Chegou ao ponto de capturar e manter refém uma série de deputados palestinianos!)? Será que a atitude dos governos europeus face ao não de certos povos europeus relativamente ao Tratado Constitucional é democrática?
Por outro lado, também fala em barbárie mas quem foram as personagens mais desprezíveis e assassinos da nossa Era: Napoleão, Hitler, Mao, Estaline, Pol Pot, etc... Eram muçulmanos!? Até o próprio tirano Saddam Hussein tinha instaurado um estado alicerçado em princípios socialistas (grande parte da população tinha direito à escolarização); quais eram as suas ligações com a Al Quaeda e onde estavam as armas de destruição maciça? Pura mentira e desinformação! Quem inventou a bomba nuclear, quem a enviou sobre populações civis indefesas? Eram os bárbaros muçulmanos!? Quem criou as condições para a Iª e IIª Guerra Mundial e as respectivas chacinas? Quem Caucionou as ditaduras na América Latina para fazer frente ao espectro do Comunismo? Os guerrilheiros marxistas e independentistas na Colômbia? Também eram muçulmanos? Etc, etc...

Entretanto, Israel aproveita todo esse alarido para manter a sua pressão e bombardeamentos sobre os palestinianos (nas últimas horas mataram uma criança de oito meses e de cinco anos; talvez também fossem já terroristas sanguinários!!).

Enfim, poderia continuar a desenvolver a minha argumentação - peço, desde já, desculpa por ter sido tão extenso - mas penso que fui suficientemente claro: o meu campo é o da paz e do Direito Internacional (que não tem sido respeitado por Israel: a resposta a um ataque deve ser entendida ao abrigo do princípio da proporcionalidade). Contudo é claro que neste conflito e à semelhança do Rui, consigo identificar a desequilíbrio de forças, a potência ocupadora inflexível e os povos refens do silêncio da Comunidade Internacional - por outros termos da pressão da Administração Bush e do seu pupilo Blair.
Adianto que não sou filiado em nenhum partido ou movimento e que me expresso como mero cidadão independente - aluno do 2º ano em Serviço Social - que se aflige contra a ignorância e a desonestidade intelectual.

Um abraço e umas boas férias escolares, na esperança que se encontre o desenlace menos penoso possível para ambas as partes nesse terrível conflito.

Sabendo que o Rui é um apreciador incondicional da obra de Camus, deixo-lhe essas sábias palavras:

"Un homme est toujours la proie de ses vérités."
Albert Camus in Le mythe de Sisyphe

"Combien de crimes ont été commis simplement parce que leur auteur ne pouvait supporter d'avoir tort."
Albert Camus

"La vérité c'est comme la lumière, aveugle. Le mensonge, au contraire, est un beau crépuscule qui met chaque objet en valeur."
Albert Camus in La chute

Cumprimentos, luis ferreira

29/7/06 00:09  
Blogger Rui Diniz Monteiro said...

Caro Luís,
A resposta ao seu comentário que aqui escrevi ontem desapareceu. Caramba! E se era longo! Não sei se tenho coragem para o reescrever de novo.
"uma postura mais cientifica e objectiva":
1 - Não sei o que é não ter terra a que possa chamar de minha e ser "visita" indesejada em qualquer país onde procure acolhimento, caso dos palestinianos.
2 - Não sei o que é nascer e viver rodeado por povos (ou talvez melhor dizendo, dirigentes de povos) que só têm um fim em vista em relação a mim: expulsão e destruição total (caso de Israel). Porque, não se iluda, o que está verdadeiramente em jogo nesta guerra são os mísseis iranianos do Hezbollah, não são os soldados israelitas raptados.
3 - Não sei o que é viver com a memória histórica de que se tivesse tomado uma atitude mais agressiva e violenta provavelmente teria salvo a vida de uns milhões de seres humanos. Embora aqui não haja a hipocrisia hitleriana: como atrás disse, o objectivo dos países que rodeiam Israel e das milícias terroristas que o combatem tem sido sempre gritado com toda a clareza.
Por isto, não há hipótese de objectividade. Nunca, compreende, Luís? Embora o tentemos, claro.

"consegue traçar claramente uma fronteira entre os bons e os maus":
Nem preciso, eles encarregam-se de traçar essa fronteira, sempre A custa de imenso sangue e sofrimento. Agora, sempre que há uma fronteira, nós não podemos pairar no ar, acima dela. Ou estamos de um lado ou estamos do outro. Eu estou do lado de Israel, porque é o lado com cujos valores mais me identifico. Por isso, o critico tanto. Ao Hezbollah, etc, não critico, oponho-me radicalmente: não quero a sua ideologia, nem o regime político, nem o tipo de sociedade que defendem, nem o tipo de religião que seguem. Nada, não quero nada.

"permita-me insurgir-me contra a sua generalização baseada numa infeliz categorização alimentada em preconceitos e estereótipos que roçam uma forma de racismo ou melhor de islamofobia."
Marrocos foi um dos países que mais gostei de visitar. Gostei de conversar e conviver com as pessoas... quer dizer, com os homens, porque com as mulheres praticamente não consegui falar com nenhuma (a única com quem troquei algumas palavras, nem o olhos consegui ver).
Repare, Luís, nunca eu utilizo o conceito de muçulmano ou de islão nos meus argumentos. Usei uma vez o de árabe, porque são árabes os povos que rodeiam Israel. E mesmo aí sempre identifiquei de forma clara a que árabes me estava a referir, nunca generalizei. Eu sei que a minha posição é criticável em muitos aspectos (é que não há um lado bom e outro mau, por isso nenhuma posição é isenta de críticas), portanto acho que não é preciso estar a inventar coisas que eu não disse nem quis dizer, de forma aliás absolutamente inequívoca.

"o meu campo é o da paz e do Direito Internacional":
E nisto estamos os dois completamente de acordo.

Agradeço-lhe a sua atenção, Luís. Para me despedir, deixo aqui outra citação de Camus (Estado de Sítio) que, tal como eu, tenho a certeza de que não desdenhará subscrever:

"Diego: Não. Conheço a receita. É preciso matar para suprimir o assassínio, ser violento para curar a injustiça. Há séculos que isso dura! Há séculos que os senhores da tua raça apodrecem a chaga do mundo sob pretexto de curá-la, e continuam a gabar a sua receita, porque ninguém lhes ri na cara.
A Peste: Ninguém ri porque eu realizo. Sou eficaz.
Diego: Eficaz, com certeza! E prático. Como o cutelo!"

Um abraço

30/7/06 15:31  
Blogger Rui Diniz Monteiro said...

"Quando nasceu o estado de Israel, a ferro e fogo contra os ingleses e os partidários do Grande Mufti de Jerusalém, amigo dos nazis, a causa sionista era sentida como uma causa da esquerda. Foi a URSS uma grande impulsionadora das resoluções da ONU para a partilha da Palestina, e o primeiro estado a reconhecer Israel. Estava-se na altura em que o nosso Avante! clandestino saudava a luta de Israel contra as “monarquias feudais àrabes” que lhe faziam guerra e a saga socialista dos kibutz fazia parte do imaginário utópico de toda a esquerda e não só da comunista. Os socialistas e a sua Internacional deram grande apoio político ao jovem estado."

O resto do artigo no Abrupto em
http://www.abrupto.blogspot.com/2006_07_01_abrupto_archive.html#115407402467342020

30/7/06 17:56  
Anonymous Anónimo said...

Anteontem, Domingo 30 de Julho de 2006, o exército israelita bombardeou deliberadamente a cidade de Cana, no sul do Líbano, causando a morte de cerca de 60 pessoas - CIVIS, sendo mais de 30 CRIANÇAS!! Porra! MERDA para aqueles que caucionam este tipo de ofensiva, definitivamente assassina e injustificável!!
A História relembra-me os julgamentos do Tribunal de Nuremberga e espero que esses ataques também sejam julgados como crime de guerra e como crime contra a HUMANIDADE, da qual também faço parte!
Desafio alguém que leia estas linhas a defender esse crime que se encontra no domínio do inominável.

Caro Rui,
Também lamento não ter a possibilidade de ler a sua resposta original ao meu texto. Paciência e eu também não teria a coragem de reescrevê-la. Mas agradeço a sua resposta, até porque quando comunicamos - seja de que forma for - gostamos de suscitar uma resposta ou reacção. Contrariamente a si, nunca tive a pretensão de convencê-lo porque, ao lê-lo, senti que as suas posições encontravam-se enraizadas num terreno pouco fértil ao desabrochar para outras realidades - descentramento da sua perspectiva. Portanto, nunca tive a veleidade de alterar as suas convicções - estava ciente disto e até o tinha confessado a uma pessoa que temos em comum - mas quis simplesmente sensibilizá-lo para outros matizes. Neste tipo de questões delicadas é extremamente difícil abalar os nossos princípios éticos e valores porque são o resultado de um construto, mais ou menos, sólido que se edificou ao longo das nossas vidas - tanto para si como para mim; aliás a alteração súbita das suas convicções demonstraria uma certa superficialidade intelectual. Fui simplesmente desafiado - pela tal pessoa - a debater, no seu blog, esta questão que incendeia o Médio-Oriente - e o mundo!; talvez seja o mero reflexo de um certo prazer - o do desafio e da escrita - narcísico. Para mim, a única forma válida de convencer uma pessoa é "utilizar" o chamado método socrático: avançar com perguntas para o seu interlocutor e esperar que este dê respostas contraditórias ou incongruentes e que se aperceba dos seus erros ou fragilidades argumentativas; infelizmente, neste caso, a escrita não me parece constituir o canal mais apropriado ou mais fácil para tal intento.

Para ser sincero, fiquei ligeiramente desiludido com a sua resposta por achá-la pouco concreta, pouco fundamentada e um pouco evasiva. Pouco importa... e sendo um pouco provocador, talvez seja porque lhe desapareceu a sua resposta inicial.

Relativamente à objectividade, é certo que é sempre difícil alcançá-la e acaba por ser relativa, mas podemos esforçarmo-nos em multiplicar os pontos de vista para apreciar um dado fenómeno ou realidade. A objectividade é possível mas a verdade absoluta, essa sim, é, para mim, inconcebível por não fazer parte do meu quadro conceptual. A objectividade consiste "simplesmente" em distanciar-se do objecto de estudo, elaborar uma coerência interna (uma teoria, uma hipótese) acerca desse mesmo objecto e procurar confrontá-la através de uma validação externa (a tal realidade). Claro que esta objectivação tem uma dimensão relativa até porque depende do(s) nosso(s) ângulo(s) de observação. Caro Rui, o simples facto de falar da realidade exige logo um processo de objectivação.
Já agora, permita-me resumir grosseiramente a Teoria da Relatividade de Einstein: imagine-se num areal a observar duas motas de água a rasgarem o mar e essas duas motas deslizam com a mesma velocidade (por hipótese 75 Km/hora). Só que a mota A encontra-se a 100 metros do areal - portanto também de si - e a mota B encontra-se a 200 metros. A pergunta é como as vai percepcionar? Fácil: embora as motas de água deslizam à mesma velocidade, a mota A transmitir-lhe-á uma sensação de maior velocidade do que a mota B. Conclusão: se estivesse a uma distância equidistante de ambas as motas, o Rui teria a sensação que estas iriam à mesma velocidade. Por outras palavras, a apreciação/apreensão/objectivação de uma dada realidade depende do próprio conhecimento do(s) objecto(s), da distância que medeia a nossa observação, ou seja da nossa posição. Portanto é possível objectivar um fenómeno mas somos irremediavelmente refens do nosso conhecimento (eliminando, desde já, qualquer intenção de má fé ou paixões) e da nossa posição. Assim, muitas das nossas opiniões são o resultado de certos condicionamentos e são, por consequente, relativas.
Assim e retomando esse princípio da Teoria da Relatividade, peço ao Rui de tentar - eu também, limito-me a tentar - entender as posições do povo Judeu e dos diversos povos que o rodeiam; imagine-se na pele de um jovem palestiniano constantemente humilhado por um exercito israelita e sem perspectivas imediatas de um futuro ritmado pela paz. Imagine-se, agora, na pele de um jovem israelita que vive constantemente com a ameaça dos homens (desesperados)-bomba. Não consigo tomar partido. Ou melhor, estes dois jovens encontram-se no meu lado da barricada e são vítimas dos seus lideres políticos e do manda-chuva norte-americano, incarnado actualmente pelo Bush ("Mister Danger" segundo o louco - ou não tanto - Hugo Chavez). Como lhe disse anteriormente, isto não é um jogo de futebol em que se opta pelo Benfica ou pelo Sporting. Para mim, só há o lado da guerra e o da paz, e esta só se alcança com negociações (honestas e justas) e consenso. Portanto não defendo nem Israel nem o Hezbollah, advogo incondicionalmente a PAZ e penso estar ciente da responsabilidade de certos actores neste conflito.
Aliás, se não me engano um dos seus filmes preferidos é Ghandi. Sabendo este pormenor e sabendo que Gandhi foi um dos grandes pacifistas da Humanidade, tenho alguma dificuldade em entender a sua posição. Por outro lado, a sua visão maniqueísta entre o bem e o mal causa-me alguma estranheza, até porque parece ser um amante da Literatura. E se há uma coisa que a Literatura me ensinou - bem mais do que a esmagadora maioria dos meus professores - foi que essa discriminação é insensata porque, ao explorar o tal campo de possibilidades que a Literatura nos oferece, qualquer pessoa é capaz de cometer actos de generosidade e actos repreensíveis. Para mim são categorias que pertencem a dogmas religiosos/morais e não à Literatura. Esta procura de nuances não se limita em restringir-se a uma realidade em preto e branco. Quanto às fronteiras, caro Rui, estas são simplesmente arbitrárias e sempre foram, ao longo da História, um elemento detonador de conflitos e de efusão abundante de sangue (África é ainda hoje o espelho de uma divisão matemática e geométrico de um vasto território por infames europeus!; ou então, veja o exemplo paradigmático da ex-Jugoslávia). Portanto, prefiro não me inscrever nos contornos de fronteiras tão desastrosas. Solicitando de novo a ajuda do Sócrates: "Não sou ateniense, não sou grego. Sou um cidadão do mundo". Fala de choque de valores ou de choque civilizacional? Rui, será que me identifico com os seus princípios ou valores? Duvido, ou melhor talvez só em certos pontos. Todavia, identifico-me mais com os princípios e valores de um amigo Franco-Argelino e muçulmano do que com os seus! Devo ser banido ou posto atrás de umas grades? Será que pode inserir as nossas divergências nesse choque de civilização? Eu também não quereria viver num países com tradição muçulmana - já passei duas semanas na Argélia e contrariamente a si falei com mulheres muçulmanas - mas também não quero o seu extermínio, quero um mundo governado pela diversidade e não reinado pelo imperialismo económico, político e pela homogeneização cultural dos norte-americanos (basta analisar a contemporaneidade!); aliás para uma pessoa que recusa explicitamente aquela religião, parece-me curioso que não critique também o presidente do país designado como o garante da democracia e da liberdade, já que este pontua os seus discursos com um entusiasta e solene "God bless you".

Rui, não seja ingénuo: claro que generaliza! Todos nós generalizamos porque é um instrumento de organização, simplificação e avaliação da realidade! Por outro lado, utilizou, sim, o termo muçulmano mas de forma implícita, disfarçada, irónica e deselegante: "Por outras palavras, o lado que mostra mais respeito pela vida humana e que não justifica nem confunde a barbárie com a Vontade de Deus?" [no seu texto "Guerra(s)"]. Caro amigo, fica restabelecida a verdade dos factos e demonstro-lhe que não inventei nada. Talvez se deixe cegar demasiadamente pelas suas paixões? Caro Rui, é preciso alguma coragem e honestidade intelectual para assumir as suas posições, sejam elas politicamente (in)correctas ou não.

Está do lado do Direito Internacional!? A sua peremptória afirmação roça o ridículo! E relativamente a isto tenho pouco a dizer. Se apoia Israel, apoia necessariamente os Estados-Unidos na sua "cruzada" (não haverá aqui algo de religioso também?) contra o batizado "Eixo do Mal". Agora todos nós sabemos que a invasão e ocupação do Iraque (situação paradoxal com o anúncio quotidiano de atentados violentos que ceifam a vida de iraquianos quando um dos objectivos era a instauração da paz e da democracia naquele país) pelos USA e seus aliados (incluindo o governo PSD de Durão Barroso) foi uma violação do D.I., o campo de concentração de Guantanamo viola a convenção de Genebra, o ataque de Israel no sul do Líbano transgride também o D.I. e só não é oficialmente condenado pelo veto dos USA no Conselho de Segurança da ONU. Se esteve informado nos últimos dias, Israel bloqueou o corredor humanitário para socorrer as vítimas e refugiados dos bombardeamentos israelitas no sul do Líbano. Ainda se diz defensor do Direito Internacional? Tem alguma audácia. Só tenho pena que o D.I. não tenha uma verdadeira força vinculativa que possa intimar e dissuadir certos regimes a usar a violência para resolver divergências ou conflitos.
Por outro lado, como consegue justificar uma guerra ou um conflito preventivo? Visivelmente está na moda depois do Iraque (onde estava a ameaça para a Comunidade Internacional? As armas de destruição maciça? As ligações à Al-Quaeda? Mentiras!) e temo que não fique por aqui: amanhã será a Síria, o Irão ou a Coreia do Norte? Cruzada para a democratização do Médio-Oriente e dos países "ameaçadores da ordem internacional" com o intuito de civilizar esses povos que o Rui considera também de bárbaros. Fala do Irão mas que sabe deste país? Em que é que constitui uma ameaça? Sou daqueles que pensa simplesmente que o Irão procura afirmar-se como potência regional e reequilibrar as suas forças relativamente a Israel. Também não terá esse direito? Onde está a auto-determinação dos povos? Para mim, a posição israelita e dos USA reforça o extremar de posição, o ódio e o fanatismo religioso. Sabe Rui quando procurar cativar alguém e chegar a um consenso (por exemplo um aluno), tente seduzi-lo e não ofendê-lo ou atacá-lo! Talvez os paises mais desenvolvidos deveriam - em vez de fornecer certos países em armas - apostar verdadeiramente no desenvolvimento económico desses países marcados por um equilíbrio instável e caótico. Enquanto futuro profissional de serviço social, também concordo que não se deva dar o peixe mas fornecer a cana de pesca. Mas de que adianta possuir uma cana de pesca quando o rio encontra-se poluído!?

Já agora, quando fala das mulheres em Marrocos e da sua segregação física dos homens, eu pergunto-lhe desde quando as mulheres votam (felizmente) em Portugal? É tão recente e ainda há tanta coisa para fazer no sentido da igualdade de género. Por outro lado, quando defende arduamente a democracia não acha que se trata de um conceito dinâmico e sujeito a progressos constantes? Veja em Portugal e a instauração da Iª República, as mulheres portuguesas não tinha direito de voto! Por seu lado, a mulher marroquina ainda pode trabalhar enquanto que as mulheres na Arábia Saudita são proibidas de trabalhar (salvo raras excepções). Neste caso ninguém se insurge, até porque esses príncipes dos petro-dólares detêm um poder considerável na economia norte-americana (são grandes accionistas das maiores empresas... até da CNN!). Neste caso os USA recusam-se a simplesmente em condená-los e recebe-os na Casa Branca como verdadeiros chefes de Estado. Enfim, política da avestruz, tendo sistematicamente dois pesos e duas medidas.

Agradeço também a sua atenção e o seu curto excerto mas fui assaltado por uma dúvida: no Médio-Oriente actual, quem possui o cutelo? ;-) Como é evidente, discordo!

Já agora lembro-me de umas curtas mas incisivas e eloquentes palavras de Bertold Brecht que diziam o seguinte:

"Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem"

Deixo-lhe, a seguir, um texto do Pablo Neruda que para mim é fantástico de verdade. E visto que também é fã de Literatura aconselho ao Rui de ler durante estas férias - se ainda não os leu e sem querer condicioná-lo - "A Espuma dos Dias" de Boris Vian e "Se Isto É Um Homem" de Primo Lévi. Grandes obras!

Cumprimentos, luis ferreira


“Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.”

PABLO NERUDA

1/8/06 10:53  

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