domingo, julho 30, 2006

A ira dos jovens

Sinto neles uma enorme cólera acumulada, a começar a transbordar e a contaminar lentamente a nossa sociedade.

Porque é que cada vez mais maltratam professores, outros jovens (na escola, em namoros, em praxes) ou até a si próprios: anorexia, bulimia, piercings, tatuagens?

Uma 1ª explicação está em as crianças serem colocadas ainda bébés em infantários ou amas. Numa idade (até aos 3 anos) em que elas precisam da atenção exclusiva de uma mãe, são atiradas para um grupo acerca do qual ela só percebe uma coisa: que lhe é hostil. É esta percepção que se vai consolidar na estruturação da sua personalidade, se não fizermos nada que a contrarie.

Uma 2ª explicação está na agressividade e violência (verbal e física) que os pais revelam: não só para os filhos, como para os cônjuges, ou em qualquer outra situação - por exemplo, quando conduzem. Tomar consciência desta raiva e transformá-la em energias mais positivas e construtivas é um passo fundamental para não fornecermos aos nossos filhos um modelo absolutamente deplorável de comportamento.

Uma 3ª explicação é o abandono a que as crianças e jovens são votados pelos pais e outros adultos... mas não pela sociedade de consumo (publicidade dirigida a crianças em Portugal em 2001: 5 milhões de contos/25 milhões de euros).
A verdade é que ignoramos o nosso dever de proteger os nossos filhos de todos os vigaristas que prometem o céu e a felicidade infinitas. Mais: abrimos a esses vendedores de sonhos falsos as portas das nossas casas e deixamo-los serem os companheiros que mais horas passam com eles. Para que os nossos filhos nos deixem em paz. E vamos-lhes dando vídeos, cd's, computadores, dvd's, jogos, playstations, internet, etc, ao mesmo tempo que os defendemos até à irracionalidade das queixas dos professores, dos mais velhos, da polícia, atacando e pondo todos os defeitos nestes, a fim de calarmos os sentimentos de culpa que gritam na nossa consciência.
Há saída para isto? Há.
Conversar com os nossos filhos (os professores têm cada vez menos tempo e disponibilidade de espírito para o fazerem). Dar-lhes palavras e ideias que lhes permitam exprimirem-se e expressarem a dor que lhes vai dentro.
E para que eles vão aprendendo aos poucos a fazê-lo, sem ser por intermédio de actos violentos, contra si próprios ou contra os outros, dar-lhes ouvidos e todo o tempo que precisarem. Aproveitando agora as férias.

Porque, no fundo, são estes os meus votos de boas férias para todos! Convívio fecundo e gratificante para todos nas famílias!

segunda-feira, julho 24, 2006

Ataques do Hezbollah unificam israelitas

artigo de Amos Oz


"No passado, o movimento israelita pela paz tem criticado inúmeras vezes as operações militares de Israel. Desta vez não. Desta vez não se trata de expansão ou colonização israelitas. Não há território libanês ocupado por Israel. Não há disputas territoriais de qualquer dos lados.
O Hezbollah lançou um ataque, malicioso e não provocado, em território Israelita. Foi também um ataque à autoridade e integridade do governo libanês eleito porque, ao atacar Israel, o Hezbollah sequestrou a prerrogativa do governo libanês de controlar o seu território e de tomar decisões de guerra e paz.
O movimento israelita pela paz opõe-se à ocupação e colonização da Cisjordânia. Opôs-se à invasão israelita do Líbano em 1982 porque ela se destinou a distrair o mundo do problema palestiniano. Desta vez, Israel não está a invadir o Líbano. Está a defender-se de tormentos e bombardeamentos diários a dezenas das nossas cidades e vilas, tentando esmagar o Hezbollah onde quer que ele se esconda.
O movimento israelita pela paz deve apoiar a tentativa de autodefesa de Israel, pura e simplesmente, enquanto o alvo desta operação for o Hezbollah e ela poupar, o quanto for possível, a vida de civis libaneses (o que não é uma tarefa fácil, porque os lança mísseis do Hezbollah usam muitas vezes os civis como escudos de protecção).
Não pode haver uma equivalência moral entre o Hezbollah e Israel. Os alvos do Hezbollah são civis israelitas, onde quer que eles se encontrem, enquanto o alvo de Israel é o Hezbollah. Os mísseis do Hezbollah são fornecidos pelo Irão e pela Síria, inimigos jurados de todas as iniciativas de paz para o Médio Oriente.
A verdadeira batalha devastadora destes dias não é entre Beirute e Haifa, mas entre uma coligação de países que procuram a paz – Israel, Líbano, Egipto, Jordânia e até a Arábia Saudita – e um islamismo fanático alimentado pelo Irão e pela Síria.
Se, como todos nós esperamos – “falcões” e “pombas” israelitas da mesma forma – o Hezbollah for derrotado em breve, Israel e o Líbano serão os vencedores. Além do mais, a derrota de uma organização fundamentalista islâmica apostada no terror pode aumentar grandemente as possibilidades de paz para a região."

Amos Oz é um dos escritores israelitas mais reconhecidos internacionalmente e uma das mais influentes vozes do movimento israelita pela paz

in Rua da Judiaria

domingo, julho 23, 2006

Guerra(s)

Abomino a violência, todos os tipos de violência: verbal ou física, pessoal ou institucional, social ou política.
Como professor sou obrigado a lidar todos os dias com a violência, com a dos outros e com a minha. E repito: abomino-a.

Sobre a guerra que Israel está a travar.

É uma guerra suja? Claro que é. Como todas. Seja no Darfur, na Tchetchénia, na antiga Jugoslávia, ou no Médio Oriente. Não há guerras limpas, nunca houve. Eu indigno-me com todas as guerras, não só com esta.

Sou simpatizante de Israel? Não, não sou. Pelo contrário, tenho tomado sempre uma posição crítica face à atitude bélica e violenta com que Israel responde a atitudes de igual tipo dos seus adversários. Porque lhe reconheço uma superioridade moral. E penso que existem maneiras mais inteligentes, mais eficazes e mais humanas de lidar com o problema que Israel vive desde o momento da sua fundação e que, é verdade, reconheço ser dramático.

(na realidade devo confessar honestamente que não sei, nenhum de nós sabe verdadeiramente o que é viver o dia a dia com a plena consciência, e quando nos distraímos a sermos lembrados de tal, de que todos os países à nossa volta estão a fazer tudo o que podem para acabarem connosco, com a nossa terra e com os nossos filhos)

Que fique claro: estou sempre do lado das vítimas, de todas as vítimas, independentemente da nacionalidade.

No entanto, há alturas em que isto não chega. Hoje sei que tenho mesmo que escolher um lado, principalmente quando a maioria das pessoas à minha volta parece escolher o lado com o qual eu não posso de todo pactuar.

Pergunto:
Qual o lado que dá mais garantias de, a mim, à minha família e amigos, conduzir a nossa vida de acordo com os valores e princípios que consideramos mais humanos, mais nobres e mais respeitadores da nossa condição?
Qual o lado que dá mais garantias de o número de vítimas não vir a ser gigantesco? Por outras palavras, o lado que mostra mais respeito pela vida humana e que não justifica nem confunde a barbárie com a Vontade de Deus?

A resposta, para mim, é clara:

O meu lado é o de Israel!

Não é o do Hezbollah, nem o do Hamas, nem o da Síria, nem o do Irão, nem o do Líbano!

quarta-feira, julho 19, 2006

Fim de um ciclo

Está a encerrar-se mais um capítulo da minha vida, agora como professor de Matemática.
Depois de um primeiro ciclo como professor de Construção Civil (antigo 3º grupo).
Depois de centenas de horas de formação na área da Matemática.
Depois de ter feito a Didáctica da Matemática pela Universidade Aberta.
Depois de o Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, face ao meu currículo, me atribuir o estatuto de formador na área e domínio “C05 Didácticas Específicas (Matemática), com aplicação a Professores dos Ensinos Básico e Secundário”.
Todo este investimento (mais o dinheiro meu e dos contribuintes aqui envolvido) são desprezados pelo Governo (para mudar para o grupo da Matemática teria de começar a carreira do início): para o ano, entro numa nova etapa profissional como professor de Educação Tecnológica (um tanto angustiado porque nunca entrei numa oficina e o Governo não tem pejo em ameaçar-me com a avaliação de desempenho).
(Curiosamente, também ao nível da minha vida pessoal se deu agora uma rotura radical)
Pensar que tudo o que investi da minha pessoa e da minha vida foi em pura perda, custa o seu bocado.

sexta-feira, julho 14, 2006

Estado de Sítio, de Albert Camus

"Nada: (...) imaginam que tudo está na ordem. Não, vocês não estão na ordem, vocês estão na fila. Bem alinhados, de ar tranquilo, vocês estão maduros para a calamidade. (...) Quanto ao resto não se incomodem , há quem se ocupe de vocês lá em cima. E vocês sabem o que isso dá: os que se ocupam de nós não são complacentes!”



“A Peste: Eu reino, é um facto, é por consequência um direito. Mas é um direito que não se discute: vós deveis adaptar-vos.”



“A Secretária: A nossa convicção é que vocês são culpados. (...) É preciso ainda que vocês próprios se sintam culpados. E não se sentirão culpados enquanto não se sentirem fatigados. Estamos a fatigá-los, eis tudo. Quando estiverem derreados de fadiga, o resto irá por si.”



“A Peste: Esta boa gente, como diz, naturalmente não compreende nada, mas isso não tem importância! O essencial não é que eles compreendam, mas que se executem. Tem graça! É uma expressão que tem sentido, não acha? (...) Encontra-se lá tudo! Primeiro a imagem da execução, que é uma imagem enternecedora, depois a ideia de que o próprio executado colabora na sua execução, o que é a finalidade e a consolidação de todo o bom governo!”



“O Juiz: (...) E vou fazê-lo com um duplo contentamento, porque o farei em nome da lei e do ódio.
Victoria: Desgraça sobre ti que finalmente disseste a verdade. Nunca julgaste senão em nome do ódio, que tu embelezas com o nome de lei. Mesmo as melhores leis sabem mal na tua boca, porque é a boca amarga daqueles que nunca amaram ninguém. (...)”



“Diego: (...) Cada um de nós está só por causa da cobardia dos outros. Mas eu, que estou escravizado como eles, humilhado com eles, anuncio-te todavia o nada de que és feita, e que esse teu poder desenvolvido a perder de vista, até obscurecer o céu, é apenas uma sombra lançada sobre a terra, e que num segundo um vento furioso vai dissipar. Julgaste que tudo se podia resumir em números e em fórmulas! Mas, na tua bela nomenclatura, esqueceste a rosa selvagem, os sinais no céu, os rostos de Verão, a grande voz do mar, os momentos de angústia e a cólera dos homens! (...)



A Secretária: (...) Tanto quanto me posso lembrar, bastou sempre que um homem dominasse o seu medo e se revoltasse para que a máquina começasse a ranger. Não digo que ela chegue a parar, não é caso para isso. Mas, enfim, a máquina range e, algumas vezes, acaba mesmo por se avariar.”



(mais no Onde Mudar)

domingo, julho 09, 2006

Resposta do Engº José Sócrates

Já recebi a resposta à reclamação que fiz para o Gabinete do Primeiro Ministro (via Portal do Governo):

"Exmo Senhor,
Tendo presente o e-mail de V. Exa., de 29 de Maio, sobre a carreira docente, encarregou-me o Senhor Primeiro Ministro, Engº José Sócrates, de informar que o assunto foi transmitido ao Ministério da Educação.
Com os melhores cumprimentos,
Pel'o Chefe de Gabinete
Pedro Lourtie
(assinatura de) Fernando Soto Almeida"



Deixem-me pensar:

Alguém, que eu sei quem é, quer matar-me.
Apelo à polícia para me proteger e evitar que eu seja morto.
Recebo um ofício da polícia informando-me que:
"O seu apelo foi transmitido ao (possível) assassino. Com os melhores cumprimentos."

Ora bolas!!!

sexta-feira, julho 07, 2006

Depois queixem-se!...

José Manuel Fernandes escreveu uma carta a todos os colaboradores do jornal em que traça o panorama do periódico. No texto a que o DN teve acesso, diz que o Público "atravessa um momento crítico" porque perdeu circulação e publicidade. (...)"Em Portugal vendemos, per capita, metade dos jornais diários que se vendem na Turquia, o que não é bom.”

Será que ele sabe porquê?

Se ele fosse tão exigente com ele próprio como é para com os professores... É que apesar de ser fácil a resposta, este senhor não gosta de a dar.

Mas eu dou-a aqui.

Pelo mau jornalismo. Pela falta de, já nem digo isenção, mas pelo menos de honestidade.

Tomando-me como exemplo: eu deixei de comprar todos os jornais que publicaram mentiras acerca dos professores e que, depois, não se retractaram. Este foi um deles. Só voltarei a comprá-lo quando mudar de director.

O Público perdeu 4391 leitores no primeiro trimestre do ano relativamente ao período homólogo de 2005, com as vendas do jornal a situar-se nos 44 783 exemplares e os prejuízos nos 2,2 milhões de euros.

Quantos desses leitores perdidos seriam professores?

Quanto aos prejuízos, uma sugestão: comecem a “cortar” no salário do director que, segundo ele próprio já admitiu, é superior ao do 1º ministro (na altura, Durão Barroso).

(Nota: Sei que este meu radicalismo não é solução a ser generalizável. Uma democracia pode não ser sã com jornais, mas sem eles é que não o é de certeza. Infeliz ou felizmente, eles são um mal necessário!)

segunda-feira, julho 03, 2006

Eleições na minha escola

Dia de eleições para departamentos e para grupos.

Eu (que sou o único efectivo em ET e, portanto, estou automaticamente a representar o grupo) para um colega de outro grupo: Hoje há eleições, sabes como é que estão as coisas no teu departamento?

Colega: Não. Tu sabes de alguma coisa?

Eu: Não, mas digo-te: se tu não sabes é porque te estão a fazer a cama!

Colega: Não! Mas eu não quero!

Eu: Não? Então não te lembras que no ano passado elegeram a colega que estava de cama no hospital? E digo-te mais. O Arturo Pérez-Reverte dava o seguinte conselho num dos seus livros:
"Num jogo há sempre um parvo que perde. Se olhares em volta e não vires nenhum, quer dizer que o parvo és tu."
Meu caro, acorda e mexe-te, senão estás feito!


Mas foi tarde demais: foi mesmo eleito chefe de departamento...