quarta-feira, setembro 28, 2005

Exma. Sra. Ministra da Educação,
Venho respeitosamente pedir-lhe a seguinte informação:
Em que escola de gestão lhe ensinaram as seguintes formas de motivar profissionais competentes: retirar-lhes parte do salário que lhes é devido, retirar-lhes benefícios e condições decentes de exercer a sua profissão, carregá-los com mais trabalho e, ainda por cima, nunca perder uma oportunidade de, subliminar ou abertamente, criticá-los em público?
Palavra de honra que gostaria de conhecer os génios que defendem esta teoria que V. Exª tão voluntariosamente põe em prática.
Antecipadamente grato pela sua atenção e sempre com admiração,
Rui Monteiro

domingo, setembro 18, 2005

35 horas, já!

Sra. Ministra,
Venho juntar a minha voz à de FVentura, à da BLOGotinha e à da Vida de Professor, e lanço-lhe daqui um grito sentido:

FAÇA UMA LEI A OBRIGAR-ME A CUMPRIR AS MINHAS 35 HORAS NA ESCOLA, POR FAVOR!

A meia dúzia de horas que a Sra. Ministra me "dá" para "trabalho individual" (sic) não é dádiva nenhuma.
Porque é trabalho em casa, dado não haver espaço nem equipamentos nas escolas para os professores lá fazerem o seu trabalho não lectivo.

A consequência é os professores terem a sua casa e o seu espaço familiar abusivamente INVADIDOS pelo trabalho da e para a escola.

Sem que o Governo pense em compensá-los por esse empréstimo de instalações e equipamentos que eles lhe fazem e pelos prejuízos que essa INVASÃO lhes traz.

Volto a pedir-lhe encarecidamente, Sra. Ministra:
FAÇA UMA LEI A OBRIGAR-ME A CUMPRIR AS MINHAS 35 HORAS NA ESCOLA, POR FAVOR, e liberte as nossas casas e as nossas famílias desta maldição!

quinta-feira, setembro 15, 2005

2ª ideia orientadora

A principal qualidade de um bom professor é o Amor pelos seus alunos.
Para já, porque acredito que, com esta qualidade, o professor nunca perde o interesse em desenvolver todas as outras.
Mas há uma razão que considero ainda mais importante.
Onde não há Amor floresce o medo, ou cria-se um terreno fértil onde o medo pode surgir e ganhar forças. E resultam, por isso, duas consequências graves:
1ª: Se o aluno tiver medo a sua inteligênca paralisa. Além disso, esconde do professor as suas dificuldades e este fica, assim, impedido de o ajudar. Ou seja, sem o Amor do professor a dificuldade de aprender do aluno provoca a dificuldade de ensinar do professor. Se nos lembrarmos que podem estar 25 alunos nestas condições o cenário é de pesadelo... e não só para os alunos!
2ª: Muitas vezes responde-se a um ambiente de medo com agressividade. Portanto, a agressividade do professor origina nos alunos também agressividade, mesmo que não expressa como tal. Então como? Sendo o principal objectivo do professor ensinar, o aluno agressivo responde quer recusando-se a aprender, quer tentando impedir o professor de ensinar, dois dos principais problemas que surgem na sala de aula.
É claro também que há alunos que já trazem de casa essa agressividade. Mas, ainda assim acredito que a melhor estratégia é o Amor. Porque qualquer outra só irá agudizar essa raiva, mesmo que a esconda.

O que entendo por Amor aos alunos? Uma atitude persistente de respeito, atenção, gentileza e alegria para com eles.
(Lembro-me de ser criança e do tanto que eu necessitava que me tratassem assim!)
No meio da frieza do recebimento de horários insatisfatórios, das ameaças veladas que pendem sobre nós, das perspectivas de um ano terrível e desamparado de qualquer tentativa do governo de facilitar a nossa tarefa de conseguir que os alunos aprendam, da ausência de reconhecimento concreto do trabalho bem feito, no meio de tanta frieza e de medo, há um nicho que eu procuro preservar de toda a corrupção, minha ou dos outros: a minha relação pessoal e pedagógica com os alunos.
Nos dias que antecedem o início das aulas procuro cuidar do meu espírito para, de cara lavada de qualquer sombra, encontrar os alunos e acreditar com eles que esta é a oportunidade que todos temos de iniciar juntos qualquer coisa de diferente e de melhor nas nossas vidas.
Romantismo? Claro! Mas é este o coração da minha motivação para ser professor. Se eu perder isto, estarei morto para esta profissão!

domingo, setembro 11, 2005

1ª ideia orientadora para ano lectivo que se avizinha

Aquilo que eu digo só é importante se for sentido pelos alunos como tal.
É inútil decidir, sozinho e unilateralmente, da importância das minhas palavras. Posso fazê-lo mas, se tiver azar, de pouco serve.
Tendo em atenção o que é uma aula e o que se pretende com ela, tenho de me compenetrar que as percepções dos alunos são tão válidas como as minhas.
As dos alunos são, no entanto, mais importantes, pois são elas que conduzem ou não às aprendizagens que eu pretendo que eles façam.
Portanto, não devo nunca ignorar as suas percepções ou desvalorizá-las, mas devo procurar sempre compreendê-las e dialogar com eles a partir daí.
Mesmo quando eles as expressam não através de um discurso racional, mas sim através do seu comportamento irregular.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Professores e professores

Porque é que os investigadores universitários, com tão poucas horas lectivas ou de contacto com os alunos - é isto que conta agora, não é? :) -, preferem ser chamados de professores?
Uma hipótese de resposta: porque ensinar, transmitir, passar o testemunho é o objectivo emocionalmente mais forte da sua actividade de investigação.
Isto para alguns, claro. E para os outros?

Curioso que a palavra professor tem 2 sentidos substancialmente diferentes quando se fala do básico e secundário, ou quando se fala do superior - repare-se na unção que os jornalistas utilizam ao dizerem a palavra no 2º contexto e o modo como quase a cospem no 1º!