sábado, novembro 19, 2005

Querer realmente o sucesso dos alunos

Na minha mais que modesta opinião, se este Governo quisesse realmente o sucesso dos alunos dirigir-se-ia à escola, professores e pais, nestes termos (aqui muito simplificadamente expostos):

"Consideramos os indicadores seguintes ... (que incluiriam os resultados dos exames e provas de aferição, bem como o abandono escolar, sem prejuízo de outros) essenciais na promoção de uma escola de qualidade, e estabelecemos para cada um deles uma fasquia.
"Têm 3 anos (nunca menos): um, para se prepararem; e dois, para levarem à prática o que planearam.
"Nós damos aos orgãos de gestão da escola um real poder para conseguirem organizar a escola/agrupamento do modo mais autónomo possível.
"No fim dos 3 anos os resultados serão avaliados.
"Se estiverem acima daquela fasquia, tudo bem.
"Se estiverem abaixo, iremos indagar porquê.
"Se se revelar que as causas do insucesso não são imputáveis à escola, colaboraremos para apoiar a escola no que ela precisar para melhorar.
"Se forem imputáveis à escola (professores e/ou pais), intervimos na gestão da escola."

Tenho ouvido dizer pelos especialistas na área que o sucesso dos alunos noutros países está positivamente correlacionado com o grau de autonomia das suas escolas.
Além disso, procedendo como tem feito, o Governo desresponsabiliza imenso quer professores, quer pais, dos resultados que os alunos venham a obter...

sábado, novembro 12, 2005

O melhor aluno

Há dias, num jantar, um professor de Economia, a ensinar numa universidade, dizia mais ou menos assim:
"Gosto de ter alunos, mais do que a saber muito, que apresentem estas três características:
- raciocínio: saber pensar sobre uma situação ou sobre uma ideia;
- organização: saber delinear uma estratégia ou definir um plano para enfrentar a situação e atingir um determinado objectivo;
- disciplina: saber manter-se empenhado na linha de acção que foi decidida, embora sem nunca deixar de fazer os ajustes que se revelem necessários.
Um aluno destes consegue aprender tudo, mas mesmo tudo, o que eu tenho para lhe ensinar!"

1º, Concordo!
2º, Confesso que, nas minhas aulas, trabalho directamente muito mais a 1ª característica (por exemplo, exigindo sempre que os alunos expliquem o porquê do que afirmam) do que as outras .

E vocês, o que acham disto?

quinta-feira, novembro 10, 2005

426 horas

"(...) Já os professores do 3º ciclo passam menos 426 horas [por ano nas escolas] do que a média dos colegas do mesmo nível de ensino da OCDE." (Sofia de Jesus, Diário de Notícias, 14/9/2005)

Só para informar que continuo, com a ajuda este ano do Ministério da Educação, a tentar dar o meu modesto contributo para que os professores do meu país se aproximem daquela média.
Também é verdade que produzo muito menos: há mais interrupções e obstáculos a ultrapassar na escola do que em casa.
Por exemplo, a bagageira do carro é o meu armário dado que o Ministério ainda não me arranjou espaço para eu pôr o meu material de trabalho (bem como o dos mais de cento e tal professores da minha escola).
Ah, mas por outro lado, os 3 computadores e uma impressora da escola chegam-me porque os meus colegas, anti-patrioticamente, recusam-se a colaborar comigo neste meu esforço de fazer da escola o nosso local de trabalho.
Falta dizer: sou muito mais feliz assim! A minha casa passou a ser só minha, o meu espaço e o meu equipamento idem. Até o meu tempo fora da escola passou a ser meu (ou de quem me apetecer)! Estou a falar a sério. Experimentem!

sábado, novembro 05, 2005

Político = mercenários... e os professores?

Os políticos são os mercenários de todas as "guerras".
Eles são pagos para fazer um trabalho.
Até há quem defenda que deviam ser muito melhor pagos do que já são, a fim de atrair os mais competentes para essa profissão.
Isso lembra-me aquela anedota já antiga:
"Um homem e uma mulher encontram-se lado a lado num avião.
Ele pergunta-lhe: Você faria amor comigo por um milhão de euros?
Ela: Bem, por um milhão de euros eu faria, sim.
Ele: E por um euro?
Ela: Por um euro?? Quem é que você pensa que eu sou?!
Ele: O que você é [e também o que ele é, acrescento eu] já ficou decidido na primeira pergunta, agora é só uma questão de discutir o preço."
Esperar que os políticos tenham (e levem à prática) valores morais e éticos é puro idealismo. Que pelo menos cumpram as suas promessas ou, já agora, a lei, ainda é esperar bastante.


Quem achar que estou a embarcar numa cruzada anti-políticos, desengane-se.
Sou um professor. Este post poderia aplicar-se aos professores.
E aplica-se, que me desculpem os meus colegas e amigos professores que se possam sentir ofendidos com isto. Eu explico.
Nunca se sentiram desconfortáveis ao ouvirem defender que a escola deve também transmitir valores, os valores que o poder e a sociedade entendem que devem ser transmitidos... independentemente dos valores que cada professor em particular perfilha?
Por exemplo: o governo do meu país, o meu patrão, aquele que me dá emprego e é responsável por eu receber um salário, entendeu apoiar a invasão do Iraque. Eu sou contra essa guerra. Que devia eu transmitir nas aulas de Formação Cívica? A resposta só deveria ser uma: a posição oficial do meu país. Não a minha pessoal, porque senão estou a defender os meus interesses particulares... exactamente aquilo que eu critico nos políticos. Portanto... mercenário!
Este quadro pode-se tornar mais dramático quando chegarmos à Educação Sexual: mesmo que os conteúdos sejam apenas informação, não há nenhuma informação que seja neutra em termos de valores. Como é? Mercenários ou não? Estão a perceber?