quinta-feira, julho 28, 2005

Governo e medidas de moralização

Mas porque não moralizar também sectores mais dramaticamente importantes para o país? O mundo do futebol, por exemplo?
Moralizar a Educação? Decerto, mas porquê só nos professores do ensino básico e secundário, porque não também nos do ensino superior (sobre os quais, e respectivos privilégios e abusos, desceu um silêncio absoluto)?
É simples, porque somos um dos elos mais fracos na Educação (o outro são obviamente os alunos).
E o Governo ao "priviligiar" unicamente estes professores na sua cruzada de moralização acaba por estar apenas a mostrar-lhes o quão sós, fracos e indefesos eles estão. Esta descoberta, mais o medo e a raiva que vão gerar, garanto-o, não trarão boas consequências para ninguém.

sexta-feira, julho 22, 2005

A promoção nos professores

Um professor que trabalha bem vive permanentemente sob o risco de ser eleito ou nomeado para um cargo.
Ganha algo com essa "promoção"? Absolutamente nada! Tirarem horas de aulas (quando isso acontece) não é ganho nem compensação: para um professor que gosta de ensinar - por isso é que trabalha bem - trata-se, isso sim, de um castigo.
Posto isto, o Ministério instituiu por lei que os cargos nas escolas são de aceitação obrigatória. Sim, leram bem: O-BRI-GA-TÓ-RIA!!!

quinta-feira, julho 21, 2005

O poder dos jornalistas

"(...) o poder do jornalista não assenta no direito de fazer uma pergunta, mas no direito de exigir uma resposta." (Milan Kundera, A Imortalidade, p. 111)

Em Portugal estamos mais adiantados:
O jornalista de TV tem até o direito de não deixar o entrevistado completar o seu discurso, interrompendo-o e tornando-o assim qualquer coisa de irrisório e sem valor!
Espanta-me é a docilidade subserviente com que todos se submetem a este processo tremendamente erosivo da sua credibilidade.

Eu não faço isto com os meus alunos, que são miúdos... nem sei se eles me deixariam, para dizer a verdade!

terça-feira, julho 19, 2005

A Maldição da Matemática

(A propósito dum pertinente post de 13 de Julho com este título em Semiramis.)

A maior parte das críticas ouvidas a propósito dos resultados obtidos pelos alunos nos exames de Matemática são apenas críticas, ou seja, não apontam para soluções. É certo que definem objectivos: por exemplo os alunos devem saber a tabuada, ou resolver problemas, ou fazer contas, etc.

A Joana, no post atrás referido, vai um pouco mais longe, explica como ensinar: "(...)treino na solução dos problemas e no estudo dos conceitos que permitem a solução desses problemas (...)".

Ao que a Joana se sente impotente para responder (e quem não se sente?) é como é que se leva a que os alunos aprendam isto.

Ela própria, no episódio pessoal que relata, põe em evidência este problema (desculpem a repetição) de conseguir que os alunos se envolvam nestas aprendizagens. Ela não conseguiu: "(...) Quando me pedia auxílio, ficava sempre muito contrariada porque eu tentava resolver o problema partindo dos conceitos de base, por forma a que ela percebesse a questão no seu âmago. Ela apenas estava interessada nas passagens indispensáveis para chegar à solução. As minhas elucubrações abstractas faziam-lhe tédio." (...) Exactamente! E aqui a tarefa à partida até estaria facilitada: trata-se de uma aluna inteligente, fortemente motivada para o sucesso e que trabalha para atingir os seus objectivos!... Não é a regra entre a esmagadora maioria dos nossos alunos.

Uma última nota: "(...) o que há de genético … é o nosso laxismo, e entre as matérias que se leccionam, a matemática é o barómetro, por excelência, desse laxismo." Absolutamente de acordo. Só falta dizer laxismo de quem: eu avanço uma hipótese no meu post de 17 de Julho...

Uma confissão... talvez dedicada aos pais!

Férias, enfim! Que significam o fim de um penoso período sem contacto com alunos e a fazer tarefas que não discuto serem importantes (formação de turmas eu, outros, estatísticas dos resultados finais dos alunos, inventários de material, horários, etc, etc) mas que me enfadam até ao bocejo!

Sinto necessidade de esclarecer uma coisa. Hoje em dia, na escola, só há realmente 3 coisas que me prendem o interesse e a dedicação: os alunos, os pais dos alunos e as amizades ali feitas.

É verdade, também os pais dos alunos.
Primeiro havia o medo que eles me inspiravam. Reparem que, perante 25 miúdos irrequietos, como é próprio da idade, é tão excessivamente fácil um professor falhar! E eu falho tantas vezes: um tom menos amigável, uma palavra mais dura, uma desatenção num momento-chave, uma explicação mais cansada, uma avaliação que não acerta, tanta coisa!
Depois foi o descobrir que os pais andavam (andam!) tão aflitos como os professores para saberem o que devem fazer, tantas são as mensagens contraditórias ouvidas e lidas (um dia hei-de voltar a isto)!
Sim, descobri que estamos efectivamente do mesmo lado da barricada no querer bem aos miúdos e na dificuldade de descobrir meios de os ajudar a crescerem sem que fechem portas ao seu futuro.

domingo, julho 17, 2005

Exame de Matemática: 2 episódios (II)

Volto a este meu post de 13 de Julho.

O que terá levado o Sérgio que tinha 5 a tirar 5 no exame, ou a I. e a N. (que tiveram, respectivamente 5-3 e 3-1), ou os meus outros 28 alunos de 47 que baixaram de um nível? O professor, a escola, a matéria ensinada, ou o exame eram os mesmos...

Quanto mim, esta é a questão crucial de todo o ensino-aprendizagem!
Se soubermos a resposta talvez possamos mudar alguma coisa.

E não me venham com a história da simpatia pessoal. Escolhi estes 3 exemplos não por acaso: o Sérgio nunca teve nenhuma relação significativa comigo, a I. não gostava lá muito de mim (não se coibiu de me acusar à frente da mãe que eu não os tinha preparado para o exame, numa tentativa clara de fugir às suas responsabilidades), enquanto a N., que eu conhecia há anos do meu trabalho voluntário, simpatiza muito comigo.

Características pessoais de inteligência? Os 3 são muito inteligentes.
Antecedentes familiares? Poupem-me!
Diferenças de requisitos prévios, seja lá o que isso queira dizer? Tive estes 3 alunos pela 1ª vez este ano e tanto o Sérgio como a I. são alunos de 5.
Então?

Eu ponho uma hipótese: motivação pessoal para a excelência, mais conhecida por BRIO, profissional e pessoal!

E como se consegue isto em muitos mais alunos?
Ponho outra hipótese: exemplo, mas exemplo vindo de todos os lados, não só dos professores.
Exemplo na exigência profissional consigo próprios, exemplo no cumprimento de regras e leis, exemplo na satisfação pessoal por um trabalho bem feito,...
Ouviram, classe política?
Ouviram, classe empresarial?
Ouviram, automobilistas que são pais destes alunos?
Ouviram? TODOS!

Nota de rodapé: a percentagem de alunos meus que passaram no exame foi superior à média nacional (29,3%): 36,2%. Não é um resultado de que me sinta orgulhoso.

quarta-feira, julho 13, 2005

Exame de Matemática: 2 episódios

1º:
Pedro: Ó setor, tive 3, que nota preciso de ter no exame para não chumbar?
Sérgio: Setor, não vale a pena, já lhe expliquei mais de 100 vezes que ele pode ter uma nota qualquer que passa sempre, mas ele não acredita!!...
O Sérgio teve a melhor nota da escola no exame de Matemática e, como ele sabia muito bem, não precisava de se ter esforçado.

2º:
Quando acabaram as aulas do 9º, combinei com os alunos e continuei a vir às aulas para tirar dúvidas e/ou treiná-los para o exame. Disse-lhes que, como não eram aulas convencionais, podiam trazer os amigos que quisessem.
De turmas de 26, nunca me apareceram mais do que 10 alunos. E uma vez não me apareceu ninguém.

Para já, não tiro conclusões. Deixo-as para vocês.

domingo, julho 10, 2005

Não há título suficientemente adequado para isto...

Quando o 1º ministro socialista (!?) do meu país se congratula na Assembleia da República (eu vi! eu ouvi! no canal tv cabo da Assembleia) por estar a tomar as medidas que o CDS desejava mas não teve coragem de tomar, a hipótese de explicação mais piedosa que consigo encontrar é que uma forma qualquer maligna de demência tomou conta dele. Ou do partido, dito socialista, que o aceitou como membro e líder!

Porque o que ele devia dizer era o seguinte:
"Os senhores discordam da acção deste governo? Ainda bem! Ficaria preocupado é se concordassem! Quereria dizer que provavelmente eu estaria a ter uma actuação de direita." Etc.
Só que o sr. 1º ministro em consciência não pode dizer isto porque, se calhar, está mesmo a pôr em prática políticas de uma verdadeira direita. E sabe que a discórdia do CDS é só para inglês ver.

Ora cá estou eu

1,2,3 experiência...


1,2,3...


1,2...

sexta-feira, julho 08, 2005

Londres, 7 de Julho de 2005

Doem-me todas as feridas do mundo.
Aqui fica a minha solidariedade silenciosa e sofrida com as vítimas de mais este atentado.

Porque é que quando se fala de prevenção do terrorismo só se referem as medidas de segurança policial (sem dúvida, o mais urgente) e não a educação para a não-violência (sem dúvida, o mais importante)?
Educar, educar, educar: para chegar a todos, para convencer, para não deixar à solta os demónios da violência.

quarta-feira, julho 06, 2005

A direita, a esquerda e os professores

Porque é que a direita quando chega ao poder não é liberal?
Ou: porque é que só o PS pode aplicar políticas de direita?
Porque se for o PSD a tentá-lo, tem contra o PS, o PCP e o BE o que não lhe dá espaço de manobra. Se for o PS, o PSD e o CDS estão de acordo (mesmo quando fingem que não), e contra ficam apenas o PCP e o BE sem representação parlamentar significativa! Viu-se isso no governo Mário Soares / Ernâni Lopes e vê-se isso agora.

A vantagem de se ser professor é que nunca se está à mercê destas oscilações: profissionalmente, os professores são sempre alvo de uma política de direita. Porque, como toda a gente sabe, os professores não prestam. E com quem não presta só uma política de direita é universalmente aceitável - veja-se o que aconteceu a todas as classes de "não prestas" ao longo da história.

sábado, julho 02, 2005

"Fraco contra fraco"

De Rui Tavares, no Barnabé. Se não o fizeram já, leiam por favor:


"Fraco contra fraco

Um dos aspectos mais chocantes do governo de Durão Barroso: ser forte contra os fracos e fraco contra os fortes.

Mais rapidamente do que desejaria vou perdendo a esperança de que Sócrates inverta esta tendência. O novo primeiro-ministro prometeu ser forte contra todos, fracos ou fortes. O resultado do discurso, até agora, tem sido colocar todos contra todos.

Especialmente trágico, para a esquerda, é ver fracos contra fracos: desempregados contra imigrantes, sub-empregados contra mal pagos, privados contra públicos, jovens contra velhos, recibos verdes contra contratos a prazo.

Dizem-me que nada neste país se resolve enquanto não se resolver a questão orçamental. À cautela, lá vou acreditando que sim.

Mas o problema está noutro lado. Um país não suporta viver ano após ano após ano a ser governado como se estivesse nas mãos de uma comissão liquidatária. Enquanto isso, vai-se instalando a ideia – essa sim verdadeiramente mortal – de que a solução para isto não está nas mãos de quem aqui vive. Temos andado a dizer às pessoas que elas são o problema. Antes que elas se convençam que o seu dever patriótico é suicidarem-se aos sessenta anos para não sobrecarregar o orçamento e fazerem quatro ou cinco filhos à antiga para os deixar passar fome, temos de saber dizer-lhes como é que só elas podem ser a solução.

Sem isso não vamos lá, e já tarda."

O respeito no meu tempo

No meu tempo (antes do 25 de Abril de 1974) só "respeitávamos" os professores que nos inspiravam medo, aos outros fazíamos a vida negra.
Sei do que falo, estive no Camões no tempo do famoso reitor Sérvulo Correia e (exemplo extremo, mas não único de forma nenhuma) ainda hoje me dói profundamente o mal que fizemos ao professor a quem alcunhávamos de "Gilinhas", que era uma alma pura, incapaz de fazer mal fosse a quem fosse. Sempre que tenho alunos "impossíveis" lembro-me dele e penso que é bem feito para pagar o que lhe fazíamos.
Raramente, mas mesmo muito raramente, lá havia um(a) ou outro(a) professor(a) de quem gostávamos a valer (no mesmo Camões, lembro-me por exemplo da professora Helena de Sá).

Horário de trabalho e férias

Nas discussões sobre o quantas horas trabalha um professor surge normalmente um equívoco: é que se um professor dá 5 horas de aulas por dia, possivelmente não trabalha 8 horas (porque aquelas 5 horas são intensíssimas), mas isso não significa que trabalha apenas 5 horas por dia (embora, admito-o, é capaz de haver alguns muito poucos que quase o consigam fazer, mas hoje em dia só quase).

É como com as férias: as dos alunos não são as dos professores. Por exemplo o meu caso, até 22 de Julho o que tem de estar feito: reuniões de avaliação e de todos os grupos de trabalho a que pertenço, formação das turmas do 9º ano, limpeza e reorganização do Clube da Matemática, trabalho de Director de Turma (limpeza e arquivamento de todos os documentos e dossiers), matrículas dos alunos e ainda exames dos alunos autopropostos (escritos e orais), mais toda a imensa burocracia associada a isto tudo. E nem me posso queixar muito porque não sou o que estou em pior situação.

Eu até tenho vergonha de estar a chamar a atenção para isto porque me parece algo de tão óbvio que eu até peço desculpa por, com este esclarecimento, poder parecer que penso que as pessoas estão de má fé.

sexta-feira, julho 01, 2005

Sim, reforma aos 52 anos!

Não sou professor do 1º ciclo.

Não consigo acreditar que o 1º ministro não saiba o que é a vida de um professor do 1º ciclo para achar escandalosa a idade da reforma aos 52 anos!

Lembrem-se da vossa dificuldade, como pais, em conseguir apenas que o(s) vosso(s) filho(s) se comporte(m) adequadamente. Com meios, que os professores não têm, de impôr a vossa autoridade.

O professor tem 25 à sua frente. Dos 6 aos 10, 13 ou 15 anos. Durante 5 horas. E tem que levá-los, não só a portarem-se bem, como a aprenderem aquilo em que não estão interessados (porque saudavelmente querem é brincar, em segurança e na companhia dos amigos). Muitas vezes distribuídos por vários anos de escolaridade na mesma turma, na mesma sala, todas as matérias.

Em casa, os vossos filhos têm um ambiente de partilha dos mesmos valores. Ao contrário da escola, onde coexistem pobres, ricos, europeus, outros nem tanto, filhos amados, desamados, com pais, sem pais, acarinhados, maltratados, de barriga cheia ou esfomeados. Tudo isto numa mesma turma.

Não há momentos de descanso durante a aula. Se se relaxa, o caos instala-se.

E correndo o risco real de ser agredido por um aluno (sim, até no 1º ciclo os professores são vítimas de rasteiras, narizes partidos, bofetadas, etc) ou processado pelo ministério por iniciativa de algum pai. Não podendo mudar de profissão porque o curso tirado serve exclusivamente para ser professor e para mais nada.

25 miúdos, 5 horas, 5 dias por semana, mês após mês, ano após ano.

Eu sei disto e não sou do 1º ciclo.