terça-feira, maio 30, 2006

Os alunos, não se esqueça dos alunos, sra. ministra!

"(...) o sucesso de uma intervenção para a melhoria dos resultados em Matemática depende fundamentalmente do trabalho das escolas e do trabalho colectivo dos professores de matemática."

(do Plano de Acção para a Matemática, Ano Lectivo 2006-07)

Haja alguém que lembre misericordiosamente a sra. ministra da existência dos alunos. E que, como são eles que aprendem, a "dependência fundamental" é com eles...

Ah, afinal já alguém lhe lembrou que existem alunos!
Bolas!, esqueceram-se foi de lhe dizer que eles são pessoas, e que, se não quiserem aprender ou estudar, a escola não tem meios de os obrigar a isso:
"Maria de Lurdes Rodrigues justificou a pouca qualificação dos jovens com um trabalho - quer das escolas, quer dos professores - que "não se encontra ao serviço dos resultados e das aprendizagens"." (JN de hoje)

(E lá vai mais uma bordoada! Primeiro foi ao Ensino Superior com aquela da incompetência dos professores. Agora é a vez da Inspecção-Geral de Educação que permite este comportamento vergonhoso das escolas!)

Ah, ingénua Ministra: a pensar e a dizer tão mal dos professores, pergunto-me como terá desenvolvido a sua actividade docente e o que terá feito no tempo em que era professora...

segunda-feira, maio 29, 2006

INACREDITÁVEL!!!

No artº 111 da Proposta de Alteração do Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente apresentada pelo Governo este fim de semana, diz-se o seguinte (negritos meus):

"1 – O exercício de funções docentes em estabelecimentos de educação ou de ensino
públicos é feito em regime de exclusividade.

2 – O regime de exclusividade implica a renúncia ao exercício de quaisquer outras actividades ou funções de natureza profissional, públicas ou privadas, remuneradas ou não, salvo nos casos previstos nos números seguintes.

3 –É permitida a acumulação do exercício de funções docentes em estabelecimentos de educação ou de ensino públicos com:
a) Actividades de carácter ocasional que possam ser consideradas como complemento da actividade docente;
b) O exercício de funções docentes em outros estabelecimentos de educação ou de ensino."


Então agora o Governo quer mandar no meu tempo livre e privado?

Quer impedir-me até de fazer trabalho voluntário (já que nem mesmo admite as actividades não remuneradas)?

Mas com que direito?

E seremos nós, os professores, um balão de ensaio com o objectivo de estender a outros esta vontade de controlar sem limites as vidas dos cidadãos?

O que virá a seguir? Dizer-nos onde é que devemos gastar o nosso salário? Com quem devemos andar?

Confesso: é assustadora a tentação totalitária e estalinizante deste Governo!

domingo, maio 28, 2006

Eles andam a enganar-nos... em grande!

E ao ME também, bem como aos professores do Ensino Superior, eles que tanto acreditam nas virtudes dos exames!

É que os alunos copiam e copiam e copiam, de todas as maneiras possíveis e imaginárias!

Vejam aqui, no Jornal de Notícias. E não deixem de consultar os links do lado direito da notícia!

Alterações ao ECD e avaliação dos professores feita pelos pais

Não são os pais que são incompetentes

(para quê insultá-los, chamando-os de incompetentes? Há alguém que goste de ser chamado publicamente de incompetente? Mesmo que com razão?)

É A PROPOSTA QUE É IMBECIL!

Como seria também se os contribuintes avaliassem os funcionários das finanças que recebem e aprovam ou não as suas declarações de impostos, ou os empreiteiros os fiscais das suas obras, ou os réus os juízes que os julgam, etc, etc, etc!!!

É que há uma coisa que se chama "conflito de interesses".
Este conflito existe
(esta explicação é para os ignorantes do governo - de facto numa coisa lhes dou razão: o sistema educativo que os formou é uma miséria!)
por exemplo, quando há uma relação em que a parte que avalia é interessada directa no resultado da actividade avaliada.
Ou ainda quando haja uma relação de litígio com a entidade de quem recebe os serviços.


A proposta é de tal modo cretina e demagógica que só pode ter 3 objectivos:
1º, Desviar as atenções de outras propostas realmente penalizadoras para os professores (por exemplo, funções atribuídas - 21 para o professor normal, em que cada uma é todo um programa; 29 para o professor titular... nem o Superhomem! Ou ainda aumento da carga lectiva para os professores mais velhos e para o secundário; ou uma progressão mais lenta; etc).
2º, Vir a servir como moeda de troca para a(s) medida(s) que o governo quer ver realmente aplicadas.
3ºFazer subir a popularidade do governo junto dos pais, ao mesmo tempo que coloca mal os professores (e estes estão a cair direitinhos na armadilha ao hostilizarem os pais em vez de combaterem simplesmente a proposta de alteração da carreira).


Adenda irónica:
(ou talvez nem tanto)
Imaginemos que eu era professor do filho de um dos juízes do Supremo Tribunal de Justiça que considera «lícitos» e «aceitáveis» castigos físicos - como palmadas e estaladas - e que não as dar pode configurar "negligência educacional".
Irei ser avaliado negativamente por não aplicar uns valentes sopapos nos alunos?


P.S. IMPORTANTE:
Vão ao Aragem responder ao pedido:
"Venho fazer-vos um pedido, que é simultaneamente um desafio. Conseguiriam fazer-me chegar até amanhã, o mais tardar fim da tarde - 19 horas, anotações sobre os aspectos que consideram mais críticos nesta proposta de ECD [ver aqui](...) e, se tiverem, sugestões de alteração?
Há uma hipótese real de as fazer chegar mais longe, exactamente onde interessa que cheguem... Neste momento não posso dizer mais do que isto.
É uma oportunidade que temos de aproveitar. É preciso combater inteligentemente este absurdo.
Abraço a todos"

sábado, maio 27, 2006

"A escola está sufocada por um excesso de missões."

No Outróòlhar do Miguel (e tirado do Público.pt):

"O reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, defendeu hoje no Parlamento a necessidade de definir prioridades para a actuação da escola, actualmente sem capacidade de resposta e "esmagada" pelo excesso de missões que os responsáveis políticos e a sociedade teimam em atribuir-lhe.
(...)
"A escola está sufocada por um excesso de missões. Importa recentrá-la na sua função primordial", defendeu António Nóvoa, na cerimónia de apresentação do debate nacional sobre educação, que decorreu hoje na Assembleia da República.
(...)
"É mais fácil atirar tudo para cima da escola e depois culpar quem lá está pelo desastre dos resultados. Não se pode atribuir tudo à escola e depois esperar que os professores resolvam o problema como puderem", criticou."


Mas eu, logo quando saiu o Currículo Nacional do Ensino Básico - Competências Essenciais, me queixei que era impossível a escola conseguir que os alunos desenvolvessem tudo aquilo!!!

Por três razões:

1ª, Os professores são pessoas normais, não têm a maior parte daquelas competências. Assim, como ensiná-las?

2ª, As exigências sobre os saberes a transmitir são muito complexas. E apercebemo-nos que os processos de aprendizagem também o são. Pelo que, já ao nível estritamente disciplinar, o problema é deveras complicado.

3ª, Se a isto juntarmos as educações que são transversais a todas as áreas disciplinares, e a que Nóvoa fez referência (parece que foram mais de 20 e só nos últimos meses), a saber (sem hierarquias): cívica, estética, ambiental, rodoviária, do consumidor, para a saúde (e só aqui: tabagismo, alcóol, drogas, higiene física e mental, etc.), sexual, para a paz, e por aí fora...

Bem, ficamos assim com uma ideia da magnitude da tarefa. Por outras palavras, da pura e total impossibilidade de levar essa tarefa a bom termo!

(E dizia eu, a quem me queria ouvir na altura (e que não era ninguém, sejamos francos!), que ainda iríamos ser crucificados à conta daquelas expectativas delirantes!)

Que António Nóvoa só agora tenha descoberto que o rei vai nu é, confesso com o máximo respeito que ele me merece e que não se põe em questão, e face à imagem completamente destroçada que a escola apresenta hoje, algo que me suscita revolta e uma imensa piedade pela sua cegueira de então!

quinta-feira, maio 25, 2006

"Caça às bruxas ou paranóia?"

A propósito de
"(...) era mesmo do professor da disciplina o nome que acompanharia as provas de cada turma."
nas Memórias Soltas de Prof, com o título acima indicado.

É raro eu dizer mal de colegas, só por uma razão: é que eles são uma minoria e, se falarmos deles, passam a ser uma "maioria" (esta verdade já foi descoberta pelos advogados, pelos médicos, pelos engenheiros, etc, etc, excepto pelos professores).
Por isso, não vejo vantagens em que os professores sejam objecto de ainda mais avaliações do que aquelas a que já estão sujeitos (a única coisa em défice é não haver castigos para os maus professores, mas isso também acontece nas outras profissões sempre que não haja queixas que cheguem às respectivas ordens ou aos tribunais... e mesmo aí!).

Este pormenor dos nomes dos professores nas provas faz-me lembrar aquele ditado:
"Cuidado com o que pedes, pois poderá ser-to concedido!"
Na minha opinião temos aqui uma primeira resposta aos pedidos insistentes de tantos professores para serem objecto de uma avaliação mais cerrada.

"Ah, mas não era isto que queríamos!"
Bom, acredito. Mas alguém é ingénuo ao ponto de esperar que o sistema de avaliação arranjado pelo Governo não vai ser:
- o mais penalizante para os professores com o fim apenas de se poupar dinheiro com os salários?,
- o mais económico, básico e praticável que puder ser aplicado aos milhares de professores do nosso sistema de ensino?

Tudo isto, claro, dentro dos limites do suportável.
Mas os professores já têm sobejamente mostrado o quanto para eles são elásticos estes limites.

quarta-feira, maio 24, 2006

"O eduquês em discurso directo"

Eis uma crítica (dura, mas justa e construtiva) muito interessante ao livro de Nuno Crato feita por João Vasconcelos Costa.

sábado, maio 20, 2006

"combater o insucesso escolar"...!!??

O post do Miguel, aqui, inspirou-me para esta prosa absolutamente verídica em todos os seus pormenores:

Efectivei-me no 3º grupo do Secundário, Construção Civil (ramo teórico, visto que o prático era assegurado pelo grupo 12ºE).
Quando comecei a ficar com horários zero foram-me sendo atribuídas turmas de Matemática.
Quando os engenheiros passaram a ter habilitação própria, fui ao Ministério e fui às Faculdades e ESE’s: só havia uma maneira de mudar para o grupo de Matemática: começar a carreira do início.
A Universidade Aberta foi a única instituição que me aceitou como aluno à disciplina de Didáctica da Matemática (afinal a única coisa que me distinguia de um professor pertencente ao grupo desta disciplina).
Depois de ter a disciplina feita (com 14), voltei a apelar ao Ministério. Em vão, a resposta foi a mesma: tinha de começar a carreira de novo.
Entretanto, sempre com horário zero, sempre a dar Matemática e sempre o último nas escolhas por não pertencer ao grupo.
No mesmo ano, 2002, em que o ME me fecha as portas à possibilidade decente de pertencer ao grupo de Matemática, o Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, face ao meu currículo, entendeu atribuir-me o estatuto de formador na área e domínio “C05 Didácticas Específicas (Matemática), com aplicação a Professores dos Ensinos Básico e Secundário”!
Este ano o Governo coloca-me no grupo 530, Educação Tecnológica, disciplina que vou passar a leccionar a partir do próximo ano lectivo!
O Governo podia, por respeito para com todos, alunos e professores, ter dado uma hipótese de escolha: o professor ficar na disciplina que está a leccionar há vários anos, ou mudar para a ET, se para isso tiver mais competências.
Mas para o ME os professores não são pessoas. Nem, aliás, os alunos!

quarta-feira, maio 17, 2006

A Festa dos Museus

Aqui vai o programa, em Lisboa... já um bocadinho (mas só um bocadinho) atrasado!
Até 21 de Maio!

sexta-feira, maio 12, 2006

Há medidas cuja bondade não se discute.
Discute-se é o modo como o ministério quer que sejam levadas à prática e denuncia-se quando e onde o povo está a ser enganado. E só.
Mais: eu até acho que se deve concordar com elas entusiasticamente; assim, se a coisas correrem mal, a culpa é da exclusiva responsabilidade do governo, os professores até mostraram boa vontade.
Por exemplo, a de deixar o plano da aula na escola. Para quê andar a dizer que não se vai conseguir pôr em prática? Esse é um problema do governo, que seja ele a não conseguir pôr em prática. Como reagimos faz com que o que passa para a opinião pública é que somos nós que temos má vontade.
E o governo fica todo contente. Foi demagógico, mas quem paga a factura são os professores.
Os nossos sindicatos ainda não perceberam nem a sociedade em que vivem (com pais extremamente aflitos, disso não tenham dúvidas) nem o governo cínico (e com uma completa ausência de escrúpulos, como agora a opinião pública está finalmente a começar a perceber) que têm pela frente.

segunda-feira, maio 08, 2006

"Os professores trabalham pouco e ganham muito"

Comparo muito a nossa profissão à de um piloto de Fórmula 1, ressalvadas as devidas proporções.

As corridas estendem-se por 8 meses e normalmente de 15 em 15 dias (mas nem sempre, às vezes são mais intervaladas). Cada corrida exige o máximo de concentração e de entrega por parte do piloto, senão dá-se o desastre. Nos intervalos entre corridas, há um trabalho invisível dos pilotos, mas essencial para a obtenção de bons resultados.

O único aspecto não comparável (para além da diferença abissal de ordenado e do risco de vida) é que na Fórmula 1 não aparece ninguém (pudera!, passaria por um completo idiota!) a achar um escandaloso privilégio que os pilotos ganhem milhões trabalhando só 2 horas em cada 15 dias e apenas durante 8 meses no ano!
Em relação aos professores aparecem muitos, alguns até reputadamente inteligentes!

quinta-feira, maio 04, 2006

Agora é que sim!

«Temos professores a mais e com fracas competências», disse a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues.

Agora é que de certeza todo o ensino superior responsável pela formação e certificação dos saberes e competências dos professores vai sair do seu silêncio (até agora mais ou menos cobarde, admitamo-lo) e contestar indignadamente este atestado de incompetência que a Ministra acaba de lhes passar!